Ao gosto do freguês | Museu do Amanhã

Conheça todas as 22 maravilhas voadoras criadas por Santos Dumont

Exposições Temporárias
O 14 Bis, modelo de 12 de novembro de 1906 / Concept art by Luiz Pagano

A lista é extensa e impressiona pela variedade e criatividade: de dirigíveis a biplanos, passando por helicóptero e hidroplanador. Com persistência e genialidade, Alberto Santos Dumont foi o autor de 22 aeronaves – e mais algumas adaptações e protótipos que não chegaram a ganhar notoriedade. O brasileiro identificava seus “filhos” com números, que formavam uma sequência (quase toda) cronológica. “É que o inventor, como a natureza de Lineu, não faz saltos: progride de manso, evolui”, explicou, em um de seus escritos.

As invenções voadoras de Santos Dumont têm destaque na exposição “O Poeta Voador”, no Museu do Amanhã. A primeira delas foi Balão Brasil, em 1898. Há 118 anos, o cientista brasileiro apresentava em Paris um empolgante cartão de visitas: com materiais até então desprezados para obter o menor peso, o Brasil era o menor balão de hidrogênio até então criado, com 113 metros cúbicos de gás num invólucro de seda de apenas 6m de diâmetro. Em seguida, montou o L’Amérique, balão capaz de transportar alguns passageiros e bastante inovador.

Ainda em 1898, inicia seus trabalhos em dirigibilidade. Queria poder controlar o voo, ir e voltar com controle. O primeiro dirigível era movido a combustão interna. O brasileiro assombrava o mundo aeronáutico ao mostrar que o motor a petróleo era o futuro. Em seguida, lança uma impressionante sequência de dirigíveis. Em 1901, conquista o “Deutsch Prize”, ao contornar a Torre Eiffel, percorrendo 11 quilômetros em pouco mais de meia hora com seu dirigível número 6. Com o número 9, permite que a americana-cubana Aída d’Costa se torne a primeira aeronauta mulher do mundo.

A polêmica com os irmãos Wright

Em 1904, começam a surgir notícias de que os irmãos Orville e Wilbur Wright, dos Estados Unidos, conseguiram realizar um voo com aparelho mais pesado do que o ar. Porém, nenhuma informação técnica foi divulgada pelos americanos. Santos Dumont mergulha em estudos, chega a projetar um helicóptero, mas não leva a ideia à frente. Em 23 de outubro de 1906, consegue o primeiro voo de um objeto mais pesado que o ar. Diante de milhares de testemunhas, a bordo do 14bis, Dumont decola e percorre 60 metros numa altura de cerca de 3 metros do solo. Um mês depois, em novo voo, desta vez de 200 metros a 6 metros do chão, Santos Dumont ganha a taça Archdeacon. É ovacionado.

– Santos resolveu a questão dos voos dos balões. Ele faz dirigíveis, controla a arte da navegação aérea e parte para o avião. Em 1905, o termo avião é reconhecido pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI) como aquele aparelho que for capaz de decolar, voar e pousar, sem auxilio externo, em tempo calmo. Os irmãos Wright jamais não preencheram esses critérios. O primeiro voo homologado e reconhecido pela FAI, é, de fato, do 14bis. Em 1908, os Wright chegam a processar todos os inventores, inclusive Santos Dumont. Mas, um ano depois, eles já estão fora das competições – explica o físico Henrique Lins de Barros, autor de livros sobre Santos Dumont, destacando o pioneirismo do 14bis. – O 14bis fornece o entendimento de que, para levantar voo, é necessário mudar o ângulo de ataque para criar suficiente sustentação nas asas. A partir daí, a aviação explode. Todo mundo copia essa ideia.

Em 1909, surge o pequenino Demoiselle, também conhecido como “Libellule”. Ganha notoriedade não apenas pelo design inovador, mas por ser a primeira aeronave a ser fabricada em série. Vale aqui lembrar uma particularidade: o inventor coloca à disposição de quem quisesse os planos e detalhes do Demoiselle, pois ele não patenteava suas invenções. O Demoiselle chegou a ser fabricado por diferentes oficinas. Mais de 40 foram construídos. Para Santos Dumont, suas obras deveriam ser partilhadas por toda a humanidade.

– Depois do Demoiselle, Santos Dumont deixa o campo de provas e vira uma importante figura na área da aviação. Dá uma série de palestras sobre os destinos da aviação. Tem enorme conhecimento da química e mecânica de materiais. É uma figura ainda a ser desvendada – complementa Henrique Lins de Barros.

A lista das invenções voadoras de Santos Dumont

Balão Brasil (1898) – Balão livre esférico. Primeiro voo em 04 de junho de 1898.
L’Amerique (1898) – Balão esférico maior do que o Brasil.
Dirigível Nº 1 (1898) – Primeiro que utiliza cordas presas diretamente ao invólucro. Cai no segundo voo.
Dirigível Nº 2 (1898) – Motor Dion-Bouton modificado. Cai na primeira tentativa.
Dirigível Nº 3 (1899) – Primeiro voo em 13 de novembro de 1899. Voa quase diariamente em Paris.
Dirigível Nº 4 (1900) – Modificados e com duas versões.
Dirigível Nº 5 (1901) – Contorna a Torre Eiffel e cai em 8 de agosto de 1901.
Dirigível Nº 6 (1901) – Venceu o Prêmio “Deutsch de La Meurthe”, ao contornar a Eiffel, percorrendo 11 quilômetros em pouco mais de meia hora. Voou em Mônaco em 1902.
Dirigível Nº 7 (1902) – Criminosamente destruído nos EUA. Feito para competir na prova que se realizaria na exibição em St. Louis.
Dirigível Nº 8 (1902) – Ao contrário do que muitos pensam, o inventor não pulou o número 8 por superstição. Santos Dumont vendeu a réplica do número 6 ao vice-diretor do Aeroclub da America, Mr. Boyce.
Dirigível Nº 9 (Baladeuse 1903) – Primeiro voo em 07 de maio de 1903. Fez algumas modificações. Realizou diversos voos importantes.
Dirigível Nº 10 (1905) – Somente em teste, porém o objetivo era de ser um ônibus voador.
Monoplano-hidro Nº 11 (1905) – Inspira-se no protótipo de um planador feito cem anos antes pelo cientista inglês George Cayley.
Helicóptero Nº 12 (1906) – Não obteve êxito. Somente parte da estrutura e da instalação do motor ficaram prontas.
Dirigível Nº 13 (1905) – Dirigível de Hidrogênio e ar quente. Destruído num hangar durante tempestade.
Dirigível Nº 14 (1905) – Demonstrações em agosto de 1905.
Les Deux Ameriques – Balão esférico feito para participar da taça Gordon-Bennet.
Biplano Nº 14-bis (1906) – O 14bis era um avião do tipo conhecido como “cannard” (pato, em francês), que tem as asas maiores na parte traseira. Realizou o voo histórico, o primeiro homologado, em 12 de novembro de 1906. Caiu em 1907.
Biplano Nº 15 (1907) – “Tractor” e com ensaios em novos ailerons (dispositivos para controlar a inclinação lateral). Não obteve sucesso. Dirigível Nº 16 (1907) – Aparelho mais pesado que o ar com invólucro de hidrogênio e asas, mas não consegue levantar voo.
Biplano Nº 17 (1907) – Versão do número 15 chamado “La Sauterelle”, não chegou a ser testado.
Hidroplanador Nº 18 (1907) – Com asas e lemes submersos, um hidroplanador é uma resposta de Alberto a uma aposta. É testado no Rio. Sena Monoplano Nº 19 (1907) – O primeiro Demoiselle. Aparelho protótipo e de desenvolvimento.
Monoplano Nº 20 (Demoiselle, 1909) – Aperfeiçoamento do Nº 19. Com ele, realiza diversos voos.
Monoplano Nº 21 (Demoiselle, 1909) – Nº 20 com troca de motor.
Monoplano Nº 22 (Demoiselle, 1909) – Uma evolução dos princípios adquiridos anteriormente.

Por Emanuel Alencar, editor de Conteúdo do Museu do Amanhã.
Sob supervisão do pesquisador Henrique Lins de Barros.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.