O final feliz da COP21 | Museu do Amanhã

O final feliz da COP21

Observatório do Amanhã
América do Sul em grande globo terrestre exibido na COP21 mostrando as alterações climáticas em comparação com a média do século XX

Por volta das 19h30 do último sábado, 14/12, em Paris, ouviu-se bater um martelo. Foi quando 195 países do mundo concordaram com um só documento que define passos comuns a serem seguidos rumo a uma economia de baixo carbono. Este é um feito inédito em 21 anos de convenção mundial do clima – as COP’s - e, sem dúvida, um grande passo para a Humanidade.

A partir de agora, cada país que apresentou seus objetivos domésticos de mitigação de gases do efeito estufa e adaptação às mudanças climáticas – as Metas Nacionalmente Determinadas – terá que cumprir compromissos de transparência e cooperação sob um regime internacional com força de lei. As metas do Acordo do Clima começam a valer em 2020. Durará por 5 anos e terá seu sucesso revisto então.

Alguns fatores colaboraram imensamente para o sucesso deste COP. A condução francesa foi muito elogiada - como o país anfitrião lidera os trabalhos conta muito para criar o ambiente político em conferências deste tipo. Em Paris, esta tarefa foi dada ao ministro de Negócios e Desenvolvimento Internacional, Laurent Fabius. Foi tão bem sucedido, que ao entrar no salão para anunciar a vitória, Fabius arrancou suspiros e gritinhos entusiasmados da plateia. 

Entre as boas sacadas francesas, a estratégia de trazer os chefes de estado para o dia inicial da conferência foi acertada. Se 150 grandes chefões voaram até uma Paris pós-atentado para deixar claro que gostaríam de ver sair este acordo, os negociadores tinham que se virar para cumprir. Também a lembrança de que a França construiu este momento logo após todo o sofrimento vivido em 13 de Novembro foi devidamente reconhecida. “Nos devolveu a fé na comunidade global”, comemorou o Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry.

O Brasil esteve em alta. Saiu-se com metas arrojadas, se comparadas aos demais. Vendeu casos de sucesso no combate ao desmatamento e reforçou seus bons números de energias renováveis - os dois grandes vilões das emissões de gases estufa. Apresentou proposta de mecanismos de mercado aplaudidas. Presidiu um dos grupos de trabalho mais complicados - o que debateu a questão de diferenciação de responsabilidade entre os países. Foi elogiado pelo corredores pela excelência de seu corpo de diplomatas e terminou com a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira comemorando que o acordo teve mesmo foi sotaque brasileiro.

Um acordo deste porte traz algo além do que compromissos. Ele passa uma mensagem. Algo que, para fins de políticas internas e externas, é o mais importante. É um sinal claro e inequívoco de que há uma coisa no mundo com o qual os países que o compõem concordam: que do jeito que está, não vai dar mais. Este sinal vermelho falará alto aos políticos e à sociedade civil. Mas, quem foi mesmo citado com recorrência em Paris foram os setores privados e financeiro. A contar pela  presença em massa de empresas na COP 21, o recado foi dado.

Escondidos no juridiquês da negociação circularam conceitos profundos. O que fala em “no country left behind” - nenhum país será deixado para trás, em português - é particularmente significativo, pois traduz um intuito verdadeiramente cooperativo entre nações. Foi graças a ele que a batalha em prol dos países mais vulneráveis acabou vencida - e a meta de almejarmos um aquecimento máximo de 1.5 oC até o final do século, se comparados aos níveis pré-industriais, entrou para o texto final. Justiça Climática também foi expressão que ganhou corpo. E, quem diria, até a Mãe Terra foi citada no acordo final. As ONG’s, encabuladas em suas ações pelo rigor da polícia francesa, saíram, desta forma, também um pouco de alma lavada. 

A palavra que mais se ouviu ao final, no entanto, foi implementação. Cada país sai de Paris com compromissos determinados por eles mesmos e com reconhecimento de seus pares de que aqueles são os melhores objetivos que puderam apresentar. No abraço de agradecimento a sua delegação, Izabella Teixeira frisou: "Agora é hora de ir para casa trabalhar”.

Foi com Nelson Mandela, mais de uma vez citado durante os motivadores discursos dos nossos salvadores do clima em Paris, que a chanceler sul-africana Edna Molewa encerrou sua fala durante a plenária final. “Eu andei a longa estrada para a liberdade”, começa a citação. “Mas só posso descansar por um momento, pois com a liberdade vem a responsabilidade, e eu não me atrevo a demorar, pois a minha caminhada não terminou”.  

Por Juliana Tinoco, mestre em Meio Ambientes e Desenvolvimento pela London School of Economics e Gerente de Comunicação do Museu do Amanhã.

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