Entrevista com Harshit Agrawal, fellow do LAA | Museu do Amanhã

Entrevista com Harshit Agrawal, fellow do LAA

LAA | Laboratório de Atividades do Amanhã
foto de Harshit Agrawal, artista e pesquisador Indiano do LAA

Harshit Agrawal é um artista e pesquisador Indiano que constrói ferramentas para estudar como a tecnologia pode ajudar a ampliar a expressão criativa humana. Obteve graduação no MIT Media Lab, uma instituição que o ajudou a olhar a tecnologia para além do propósito de realizar diferentes tarefas.

Confira abaixo a entrevista com o fellow do Laboratório de Atividades do Amanhã*

1. Como é a sua pesquisa? Sobre o que é?

Em linhas gerais, sou um pesquisador de HCI (Human–computer interaction, Interação humano-computador) e artista que constrói ferramentas para estudar com a tecnologia pode melhorar e se misturar com a expressão criativa humana. Estudo isso a partir de um aspecto de expansão humana, integração cultural e colaboração humano-máquina. Vejo a tecnologia como um meio de liberdade de expressão. A tecnologia tem poder para abrir novos universos de expressão e eu sonho e trabalho para criar esses novos universos. Acredito que nessa era da inteligência das máquinas, uma narrativa crucial será em torno de como construímos ferramentas usando a inteligência das máquinas e sua interação com coisas fundamentalmente humanas. Através do meu trabalho, busco expandir os horizontes de tais possíveis explorações e reflexões que as pessoas podem ter.

2. Como está sendo sua experiência no Rio e no Museu do Amanhã?

A experiência tem sido maravilhosa! O Rio como um todo é uma cidade muito dinâmica, com muitas atividades acontecendo. Eu amo a energia mais relaxada, onde você pode ouvir música em praticamente qualquer lugar e ver pessoas dançando e se divertindo.

Tive o prazer de participar de alguns eventos no Rio com a equipe do LAA, incluindo o Festival Picnic, ColaborAmerica, entre outros que destacaram o buzz em torno dos usos criativos da tecnologia, movimento maker e, de modo geral, uma visão crítica e reflexiva sobre o futuro no Rio. O Museu do Amanhã mesmo é um perfeito exemplo desse espírito. No Museu, tive ótimos momentos, com incrível companhia no LAA.

3. O que você pretende fazer no Museu do Amanhã?

O projeto de pesquisa no Museu do Amanhã é observar como a inteligência artificial poderia ter um papel na criação e na performance musical. A inteligência artificial (IA) é uma tecnologia com rápido crescimento atualmente e, de maneira geral, tenho interesse em como algo tão poderoso pode estar envolvido em algo que consideramos puramente humano, como por exemplo em atividades criativas. Minha opinião é que a IA pode ajudar a ampliar nossas possibilidades criativas, levando nossos esforços criativos além do que seria possível sem ela. Dados esses pontos e o lugar maravilhoso onde estou, com sua rica cultura musical, estou conduzindo experimentos em torno da IA e do samba.

A pesquisa inclui uma série de experiências. Uma delas é conseguir que computadores produzam música de forma autônoma. Isso acontece ensinando música ao computador, dando um acervo de músicas existentes. O computador tenta aprender padrões nesses exemplos e produz música nova baseado nisso. Uma vantagem fundamental e característica dos algoritmos de IA é que nós não fornecemos de forma explícita regras da música, o computador tenta identificar por conta própria. Outro experimento é acerca de tocar música interativamente com um computador, utilizando o método de chamada e reposta. Nele, uma pessoa toca alguma música com algum instrumento e o computador tenta continuar essa música, respondendo ao nosso comando. Outro experimento é sobre a composição de letras para uma música de forma autônoma por um computador. Esse segue uma abordagem parecida à do primeiro experimento, no sentido que alimentamos o computador com um grande volume de letras de sambas existentes e pedimos que ele componha uma nova letra. O experimento final é sobre uma análise musical e de letras de sambas.

Uma das grandes vantagens do aprendizado por máquinas ou inteligência artificial é a sua capacidade de lidar com grande volume de dados e nos oferecer um entendimento ao identificar padrões nele. Usando essas técnicas, estou pegando vários samples de sons encontrados no samba e os reunindo em um plano 2D, de modo que sons similares apareçam próximos uns aos outros. Isso oferece uma representação do som em uma superfície plana. Outro aspecto desse experimento é sobre reunir sambas com letras similares.

4. O que você espera do amanhã?

Gosto de pensar de maneira otimista sobre o amanhã, mas também perceber a importância da construção coletiva, através de diálogo e debate críticos, envolvendo o máximo de pessoas possível. Como trabalho com IA, olho para o amanhã a partir desse ponto específico. A IA é onipresente hoje e seu envolvimento em nossa sociedade e nossas atividades cotidianas só irá crescer. Teremos que nos manter redefinindo e reavaliando nossas noções de humanidade, o papel dos humanos no mundo, sua relação com as máquinas e, essencialmente, o que significa ser humano, em primeiro lugar. Com atividades profundas, como a própria criatividade, sendo cada vez mais possíveis de serem realizadas por seres artificiais, teremos que ter cuidado para não surtar e perder de vista o todo.

Em essência, teremos que abraçar o poder da IA e compreender maneiras de como podemos ter uma relação colaborativa com ela, onde a IA nos ajuda a ampliar nossas capacidades intelectuais e criativas, pensando nela como uma profunda ferramenta para nosso cérebro. Enquanto isso, uma das motivações primordiais que tenho em meu trabalho é espalhar o conhecimento acerca da IA e do aprendizado por máquinas para públicos cada vez maiores, como artistas, jornalistas, advogados e praticamente todo tipo de pessoa, para que o consequente poder de tomada de decisão não se restrinja a poucas pessoas. Isso pode ajudar radicalmente a evitar problemas que temos hoje em dia com IA, como por exemplo, a introdução de parcialidade no aprendizado de máquinas, onde grandes pacotes de dados criados por um grupo específico de pessoas irá incluir apenas exemplos de sua bagagem cultural, resultando em falta de representatividade do mundo como um todo. Quando começamos a generalizar isso, começamos a ter problemas.

Além disso, ficção científica e jornalismo tem a tendência a representar a IA em uma espécie de distopia, e todos nós sabemos a quais caminhos horríveis pode levar a disseminação do medo. Pode haver um melhor diálogo quando apresentamos fatos e empoderamos pessoas com um melhor entendimento do que histórias de medo. Sem dúvida, há questões que precisariam de pensamento crítico, mas quando elas são tomadas por poucas pessoas enquanto a maioria é deixada de fora, não ajuda! Então, como se diz, na medida em que o poder nossas ferramentas aumenta, também cresce nossa responsabilidade em garantir um amanhã mais brilhante.

*Os fellows são parceiros do Museu na inovação e na busca pelos Amanhãs possíveis. 

 

Entrevista e tradução: Raquel Novaes - Coordenadora de Marketing Digital do Museu do Amanhã

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.