Londres é logo ali
Meghie Rodrigues*
Quando cheguei a Londres no fim de junho para um workshop de uma semana com colegas do Science Museum, tinha uma ideia sobre como seria a visita e o que trazer de volta. Queria trazer apontamentos e ideias principalmente para a área de Exposições e Observatório, onde atuo no Museu do Amanhã. No final, trouxe na bagagem sugestões muito ricas para o museu como um todo. Poder ser parte desse crescimento coletivo tem sido uma experiência incrível.
No início do ano, vencemos um edital do British Council, o Newton Fund Institutional Skills. Com esta chamada, apoia-se programas de treinamento em diversos temas para instituições públicas e da sociedade civil, incluindo museus de ciência. Economia inclusiva, ensino de ciências, agricultura e segurança alimentar são alguns dos temas que a chamada cobre e estão na base do projeto que submetemos. Como resultado, fomos uma das seis instituições selecionadas no Brasil e, desde então, nós e nossos parceiros (entre eles Sebrae-RJ e Embrapa-Solos) temos colocado mãos à obra para trabalhar na execução do que planejamos.
Leia o artigo que Meghie Rodrigues escreveu para o blog do Science Museum.
Planejamento que inclui envolver restaurantes da região portuária do Rio em um programa de capacitação para lidar com o desperdício de alimentos em sua cadeia de produção; trabalhar com nossos vizinhos agricultura urbana e uso integral de alimentos como meio para enfrentar a desnutrição e a fome escondida; além de realizar trocas com nossos colegas do Science Museum no Reino Unido para ajudá-los no conteúdo da galeria de Agricultura Contemporânea que estão finalizando – e para que compartilhem conosco sua expertise em criar exposições itinerantes.
Tudo isto soa e é, de fato, muito trabalho para realizar até março do ano que vem. Mas o bonde já está em movimento e a primeira parada foi em Londres. A semana que passei por lá foi o primeiro workshop de alguns que acontecerão no decorrer deste projeto – aqui no Rio e no Reino Unido – e foram dias intensos de conversas, reuniões e trocas maravilhosamente enriquecedoras.
Minha anfitriã, Giovana Zocoli (compatriota que está no departamento de Estratégia e Relações Internacionais do Science Museum), tinha tudo meticulosamente preparado para garantir que a experiência fosse a melhor possível. E foi muito bem-sucedida na empreitada: as reuniões com as equipes de Exposições, Conteúdo e Pesquisa renderam ideias que serão bastante úteis não apenas para a forma como produzimos as exposições no Museu do Amanhã, mas também para nos ajudar a pensar nossas atividades de pesquisa e no nosso diálogo com nossos visitantes.
O relacionamento que temos com nossos vizinhos, aliás, foi um dos momentos-chave nas conversas que tive por lá. Todos ficaram muito interessados em aprender com a gente sobre como estreitar laços com pessoas das mais variadas histórias de vida. Foi bastante interessante ver que o trabalho que fazemos aqui ressoa entre parceiros com mais tempo de vida e tradição que o Museu do Amanhã – e que o trabalho que desenvolvemos os fazem também querer aprender conosco sobre o que fazemos de melhor. E foi surpreendente ver que, mesmo em contextos tão diferentes como Brasil e Inglaterra, os desafios podem ser mais parecidos do que imaginávamos quando o assunto é promover inclusão social e cultural através da ciência. É o tipo de troca que uma reunião por videoconferência jamais seria capaz de traduzir.
A segunda parada agora será aqui, na Cidade Maravilhosa: no fim de julho receberemos três colegas das equipes de Exposições e Educação do Science Museum. Na pauta estão trocas sobre agricultura e alimentação – para enriquecer o conteúdo da galeria que eles estão construindo sobre o tema lá – e a elaboração de atividades educacionais sobre o tema. E a expectativa é grande – tão grande quanto a que tínhamos quando embarquei para ver outra vez a capital inglesa, agora sob um ângulo muito mais interessante do que já havia visto. Lovely!
Todo esse burburinho (e dias intensos de muito trabalho) me faz ver a distância entre Rio de Janeiro e Londres encurtar bastante. Trocar o que sabemos pelo que nossos colegas sabem, compartilhar o que funciona e o que pode ser melhorado tem sido uma das partes mais interessantes deste projeto que estamos desenvolvendo juntos. É quase como se o Tâmisa estivesse logo ali, pouco além da baía de Guanabara que nos envolve.
* Meghie Rodrigues é pesquisadora da equipe de Exposições e Observatório do Museu do Amanhã