Produzir sem desmatar. É possível | Museu do Amanhã

Produzir sem desmatar. É possível

Observatório do Amanhã
Homem conduzindo um trator empilhando troncos de árvores cortadas

Eduardo Carvalho* 

Em outubro, o Ministério do Meio Ambiente divulgou que o desmatamento na Amazônia Legal caiu 16% entre agosto de 2016 e julho de 2017. Os novos dados, obtidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, mostram que, apesar da queda comemorada pelo governo, o bioma que compreende todos os estados da Região Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão, teve devastado 6.624 quilômetros quadrados de vegetação. 

Foi como se, em um ano, desaparecesse uma área florestal equivalente a mais de cinco vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. A maior parte desse desmatamento ocorreu no Pará (2.413 km²) e no Mato Grosso (1.341 km²). Entre agosto de 2015 e julho de 2016, a perda da mata amazônica foi de 7.893 km².

A maioria de nós, que vive nos centros urbanos, quando ouve falar de ameaças à esta floresta, causadas principalmente por atividades agropecuárias, entende imediatamente que o que acontece longe de nós é perigoso para a humanidade e para a biodiversidade. No entanto, não temos ideia do tamanho do estrago.

Na chamada Fronteira Agrícola, que abrange territórios do Norte, Nordeste e Centro-Oeste brasileiro, áreas abertas, sem um único verde, são predominantes. São pedaços imensos de terra vermelha batida ou com gramíneas, expostas a um calor intenso, cercados por pequenos fragmentos florestais, sobreviventes à motosserra. Extensões que chegam a ter centenas de quilômetros quadrados, à espera do período de plantio de soja ou milho. 

As cenas, que lembram muito a descrição de Marte feita pela ficção científica, nosso vizinho desconhecido e inabitado, dão a dimensão sobre a real necessidade de se cumprir leis para manter a floresta em pé, como o Código Florestal, e reforçam o papel da ciência para esclarecer produtores e o poder público sobre a importância deste bioma.

O Museu do Amanhã esteve na região do Alto Xingu, em Mato Grosso, na fazenda-laboratório Tanguro, mantida pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o Ipam, e pelo grupo agrícola Amaggi. Uma área de 830 km², dois terços deste total com floresta amazônica preservada e o restante voltado a atividades agrícolas.

É aqui que cientistas de várias partes do país fazem experiências diversas para tentar responder a uma das grandes perguntas do momento: como o Brasil, um dos líderes na produção de alimentos, conseguirá aumentar sua produtividade para suprir a demanda mundial, que não para de crescer, sem derrubar novas áreas florestais?

A resposta tem sido escrita a várias mãos a cada dia, mas uma parte dela já virou mantra: a floresta precisa ficar em pé. Ponto final. Os motivos são vários. Alguns estudos preparados pelo Ipam na Tanguro indicaram que a vegetação amazônica funciona como um grande ar-condicionado para as plantações. Sem ela nos arredores, a temperatura no campo pode aumentar até 5ºC e afetar a produtividade.

Outro ponto de atenção é referente às chuvas. Análises mostram que a perda de cobertura vegetal em determinadas áreas da Amazônia pode diminuir em 15% as precipitações em áreas próximas de lavoura e, com isso, reduzir o rendimento das culturas em até 30%

Os pesquisadores analisaram ainda as taxas de desflorestamento do bioma brasileiro durante cerca de dez anos e a produção de soja e carne bovina neste período. Ficou constatado que, enquanto o desmatamento caiu, a produção de soja subiu e o rebanho bovino aumentou. Ou seja, é uma amostra de que é possível reduzir o desmatamento na Amazônia e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade de alimentos no país.

Há muito trabalho pela frente em meio a um cenário de esperança com a queda do desmatamento amazônico. No entanto, para os cientistas do Ipam, já passou da hora de o Brasil pensar somente em comando e controle e passar a trabalhar em políticas públicas que estimulem o desmatamento zero, beneficiem aqueles que não desmatam e fomentem a produção de maneira sustentável. 

Somente assim é que poderemos comemorar.

* Eduardo Cavalho, redator de Conteúdo do Museu do Amanhã, viajou a convite do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

 

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.