'Há horizontes belos e sinistros'
Os mesmos avanços na ciência que poderão frear doenças neurodegenerativas, como mal de Alzheimer, em apenas algumas décadas, podem ser capazes de criar "coisas sinistras", como super-homens especializados no trabalho árduo em minas de carvão sem reclamar ou pedir aumento de salário. Os fabulosos (ou não) destinos da neurociência foram tema de palestra do psiquiatra e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Benilton Bezerra, no Museu do Amanhã, na última quinta-feira (28/01).
- Nas próximas décadas nosso cérebro será capaz de fazer telecinesia (movimento de objetos à distância, sem intervenção direta ou contato físico), o que antes parecia bruxaria - disse. - A edição genética abrirá as portas para moldarmos as pessoas fisicamente. Podemos curar doenças, equilibrar problemas. Por outro lado, poderemos patentear modelos de corpo e produzir pessoas em série. Há horizontes belos e sinistros.
Um dos consultores do Museu do Amanhã para temas relacionados ao cérebro - presentes no Cubo do Pensamento, na Exposição Principal -, Benilton destrinchou os mistérios do maior órgão humano. A cada slide mostrado no "videowall" do Observatório do Amanhã, o público acompanhava com atenção. Ao final da palestra, os visitantes fizeram perguntas ao pesquisador.
- Se existe um órgão que seja o mais complexo do nosso organismo, este órgão é o cérebro. Eles nos faz humanos. Somos o que somos por causa dele. Cada um de nós tem 100 bilhões de neurônios, com trilhões de sinapses, que são junções de neurônios. Tudo que nós somos tem a ver com a maneira especifica com que esse emaranhado de células funciona - detalhou. - A ressonância magnética do cérebro, a partir de 1990, mudou tudo. Em 30 anos aprendemos mais sobre o cérebro do que em toda a historia da humanidade.
"Cérebro não explica tudo"
Num futuro não muito distante, destacou Benilton, seremos ávidos consumidores de tecnologias que vão regular o cérebro, como estimulantes cerebrais como o Aderall. Poderemos desenvolver mecanismos de transmissão de pensamento entre um cérebro e outro, à distancia. Ao exemplificar a incrível capacidade dos cérebros humanos, ele mostrou à plateia vídeo das irmãs siamesas Abby e Brittany Hensel, que vivem nos Estados Unidos. Com dois pares de pulmões, dois corações, dois estômagos, um intestino e um sistema reprodutivo, elas aprenderam desde cedo a coordenar o corpo. Apesar de compartilharem um único corpo, elas têm gostos diferentes na alimentação e no estilo de roupa.
- A mente é infinitiva, exatamente como o Universo. Como vamos utilizar os avanços? Tecnologias podem superar desigualdades, mas também aprofundá-las. O Museu do Amanhã nos faz refletir sobre essas questões. Na cultura geral se espalha a ideia de que o cérebro explica tudo o que a gente faz. Não é verdade. Ele é alterado pela cultura, pelo que vem de fora.
Sobre o "Ciência nos bastidores"
A série de palestras "A Ciência nos bastidores" reúne os cientistas que participaram da elaboração da Exposição Principal do Museu do Amanhã em conversas informais com o público. Estudiosos das áreas de Ciências Exatas, Humanas e Biológicas, ligados a universidades do Brasil e do exterior, desvendam aos visitantes os detalhes e desafios envolvidos no planejamento da exposição.
As inscrições para o evento são gratuitas e não dão acesso às exposições do Museu. Os interessados podem se inscrever até cinco horas antes de cada palestra por meio de um formulário on-line, e o número de vagas está sujeito a lotação do espaço. Os encontros vão até 25 de fevereiro, sempre às terças e quintas-feiras, às 17h30.