Somos um perigo para a biodiversidade | Museu do Amanhã

Somos um perigo para a biodiversidade

Exposição Principal
A bióloga Maria Alice em palestra no Observatório do Amanhã

A biodiversidade no mundo não é mais a mesma desde que os humanos se espalharam pelo planeta. Alcançamos uma taxa de extinção até mil vezes maior em relação ao período pré-humano, e o desaparecimento irreversível de espécies deve se acentuar. O "alerta" foi dado nesta quinta-feira (25) pela bióloga Maria Alice dos Santos Alves, do Departamento de Ecologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na apresentação que encerrou a série de palestras “A ciência nos bastidores do Museu do Amanhã”.

Estudiosa da Mata Atlântica, a pesquisadora apontou que este bioma e o Cerrado brasileiro foram incluídos numa lista de locais mais relevantes e críticos (hotspots) para conservação da biodiversidade mundial - o que não é boa notícia. Essa categorização diz respeito a ecorregiões que concentram elevado número de exemplares da fauna e flora endêmicos (ou seja, que só são encontrados naquele local) sob grandes ameaças por ação humana

– Incluído na Mata Atlântica, temos o estado do Rio de Janeiro como local de maior concentração de espécies de aves ameaçadas de todas as Américas – afirma a pesquisadora. – É um hotspot dentro de outro hotspot. Em todo o estado do Rio, foram registradas 769 espécies de aves, sendo que 82 estão ameaçadas, cinco delas endêmicas do estado.

De acordo com Maria Alice, a perda do habitat, exploração excessiva de recursos naturais e a introdução acidental, espontânea ou planejada de espécies exóticas e invasoras estão entre as principais ameaças.

– A pecuária, agricultura e a urbanização diminuem os habitats. Estamos retirando recursos a taxas maiores que a habilidade de recuperação natural dos ambientes. Além disso, a poluição e as mudanças climáticas contribuem para a degradação dos ecossistemas. E já temos provas disso – explicou a bióloga.

Ainda temos chance?

Segundo a consultora, é preciso buscar soluções imediatas para a conservação. No caso do estado do Rio de Janeiro, Maria Alice explica que o extrativismo e o crescimento urbanístico desordenado precisam ser freados com urgência. Ela usa como exemplo o caso do formigueiro-do-litoral, a única ave endêmica de restinga (ecossistema associado à Mata Atlântica) e também endêmica do estado, que tem como habitat uma pequena área de restinga entre Saquarema e Búzios. A construção de hotéis e resorts naquela região turística tem afetado a população desta ave, que também é impactada negativamente por espécies exóticas e invasoras como os saguis (micos), que predam seus ovos e filhotes.

– Uma grande parte das espécies ameaçadas de aves no Rio de Janeiro não se encontra totalmente protegida por Unidades de Conservação,concentrando-se no entorno, onde há maior pressão humana. Precisaríamos ampliar e criar novas áreas protegidas, bem como programas de controle de espécies exóticas e invasoras. Precisamos desenvolver um sentimento de que pertencemos à natureza. Isso pode ser transformador para que consigamos reverter esse processo de perda da biodiversidade. Quando mudarmos esse paradigma, vamos encontrar meios de ter um equilíbrio melhor – finalizou a pesquisadora.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.