Perimetral: vida e morte urbana | Museu do Amanhã

Perimetral: vida e morte urbana

Exposições Temporárias
Imagem exibida na exposição 'Perimetral' / Foto: Divulgação

Uma veia nervosa de concreto foi extinta da região central do Rio de Janeiro, que volta a contemplar a Baía da Guanabara. Batizado oficialmente com o nome do ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, o Elevado da Perimetral passou, em questão de décadas, de marco urbanístico a monstrengo de cimento no meio da metrópole.

Sua demolição incitou um “Fla-Flu” ferrenho. Muitos criticavam a construção e queriam seu fim. Ao mesmo tempo, outros eram contra a derrubada, por medo de que o trânsito carioca desse um nó ainda maior.

Não teve jeito. Por decisão do prefeito Eduardo Paes, a partir de 2013 as toneladas de concreto e aço foram ao chão. Sua queda virou tema da exposição temporária “Perimetral”, no Museu do Amanhã, com a curadoria do artista Vik Muniz e diretoria artística de Andrucha Waddington.

Ex-símbolo

O gigante sinuoso de aço e cimento começou a ser planejado na década de 1940, quando o Rio ainda era a capital do Brasil e já dava indícios de que, anos depois, sentiria os reflexos do aumento da frota automotiva.

O projeto saiu do papel em 1957 e a primeira parte do viaduto, interligando as avenidas General Justo e Presidente Vargas, foi inaugurada em 1960. O restante da Perimetral, da Praça Mauá até a Ponte Rio-Niterói, foi erguido ao longo de 18 anos e finalmente entregue em 1978. Mais de três décadas após os primeiros rascunhos do projeto, a Zona Sul carioca estaria ligada a dois dos principais acessos ao Rio - a Ponte e a Avenida Brasil.

O atraso não impediu que a obra se tornasse, na época, símbolo da integração da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e via de extrema eficiência.

- A Perimetral acompanhou outros modelos correlatos no mundo de vias urbanas suspensas, voltadas a automóveis. Não havia ainda o predomínio do conceito de integração de modais, tal como hoje se afirma, e tampouco a preocupação com a sustentabilidade ambiental - afirma Paulo Knauss, professor de história da Universidade Federal Fluminense (UFF). - É um símbolo de outra época.

Novos tempos

A ideia de dar fim à Perimetral não é nova. Surgiu com o ex-prefeito Luiz Paulo Conde (mandato de 1997 a 2001). Mas foi com a escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016 que o plano de “matar” a via foi posto em prática. Um novo projeto viário foi desenvolvido em 2009 e licitado em 2010. Obras que substituiriam o tráfego pesado da Perimetral, como a Via Binário, foram feitas para que o viaduto fosse demolido.

Alberto Gomes, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), considera a queda da Perimetral um ponto de virada para que, segundo ele, as pessoas soubessem que a prioridade agora era a qualidade de vida em detrimento do transporte individual.

- Foi um elemento de transformação da cidade, levando luz a locais que permaneciam escondidos até então. Estamos vendo resultados dessa demolição e revitalização já com a construção da Praça Mauá - explica. - A demolição da Perimetral é o recado do Rio para o resto do mundo de que é possível urbanizar de maneira sustentável.

Para Knauss, é preciso tempo para ver, na prática, a expectativa de um modelo de urbanismo “onde as funções convivem lado a lado” na região portuária, ou seja, áreas comuns de trabalho, lazer e residência.

O historiador cita ainda a preocupação com a gentrificação, fenômeno social que acomete grandes cidades que passam por obras de infraestrutura.

- Ainda precisamos aguardar para saber se as reformas urbanas atuais representam uma nova forma de pensar e estruturar a cidade ou se vamos continuar a assistir à expansão do modelo de exclusão social, que vai empurrando o indesejável para outras áreas mais distantes e cria melhores condições para expansão do capital imobiliário - diz Knauss.

Background Image: 
O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.