Vivências do Tempo: Outra Gente
No dia, 1 de setembro, às 17h, como parte da programação Vivências do Tempo - Matriz Indígena, o Museu do Amanhã recebe a intervenção artística Outra gente, um trabalho em processo de Maria Borba e Bruno Siniscalchi, a partir de leituras do livro A Queda do Céu de Davi Kopenwaua e Bruce Albert. Com recursos cênicos e ambientação sonora composta por Estevão Casé, a intervenção se iniciou com a realização do laboratório de criação intitulado Desenhos de escrita, idealizado com a intenção primeira de ler coletivamente o livro e assim constituir um espaço de pesquisa e criação.
"Todas essas palavras se acumularam em mim desde que conheci os brancos. Hoje, contudo, não me contento mais em guardá-las no fundo de meu peito, como fazia quando era jovem. Quero que sejam ouvidas em suas cidades, onde quer que isso seja possível.” Davi Kopenawa.
O livro "A Queda do Céu" é um relato do xamã yanomami Davi Kopenawa, que apresenta a imaginação ontológica e a trajetória política de seu grupo a partir da sua história de vida, em uma série de conversas (acontecidas ao longo de 30 anos) traduzidas e organizadas pelo antropólogo francês Bruce Albert, tendo como acontecimentos cruciais o encontro com o homem branco e suas consequências. Nesse percurso, nos deparamos não só com o que Davi conta sobre si e seu próprio povo, mas também, e principalmente, com a sua perspectiva sobre o homem branco. É a partir desse duplo movimento que os antropólogos Bruce Albert e Eduardo Viveiros de Castro apontam, na edição brasileira do livro, para o que se poderia chamar de uma contra-antropologia - discurso que, além de oferecer a imagem de um povo a partir de um de seus atores, lança uma nova perspectiva sobre nosso mundo, cumprindo o que o filósofo Patrice Maniglier, citado no mesmo texto, define como uma das mais altas promessas da antropologia: “devolver-nos uma imagem de nós mesmos na qual não nos reconheçamos”. O interesse em acessar essa forma de existência radicalmente outra, e assim tentarmos produzir alguma reflexão a respeito da maneira em que escolhemos estar no mundo, foi a motivação que juntou um grupo de pessoas, de diferentes formações e trajetórias em torno do projeto de ler esse livro coletivamente no laboratório Desenhos de escrita. Essa investigação foi apresentada ao público, seguindo com a proposta do laboratório de estabelecer um espaço contínuo de pensamento