O dramático fim de uma espécie | Museu do Amanhã

O dramático fim de uma espécie

Observatório do Amanhã
Na foto, Sudan, o último exemplar macho de rinoceronte-branco-do-norte quando ainda vivo, recebendo carinho de um de seus cuidadores.

Thaís Gesteira*

Uma das espécies de rinoceronte-branco mais ameaçadas do planeta está ainda mais perto da extinção definitiva. Sudan, o último exemplar macho de rinoceronte-branco-do-norte morreu nesta segunda-feira (19/03), no Quênia, restando apenas duas fêmeas sobreviventes da subespécie. 

O exemplar tinha 45 anos e sofria devido a complicações degenerativas relacionadas à idade. Sua condição de saúde piorou nos últimos dias, impedindo-o de se movimentar ou até mesmo levantar. Com isso, a equipe de veterinários que cuidava do rinoceronte optou por diminuir o sofrimento do animal e decidiu pela eutanásia (quando a morte é provocada clinicamente).

“Estamos tristes com a morte do Sudan. Ele era um grande embaixador de sua espécie e será recordado porque serviu para alertar a situação que os rinocerontes enfrentam, mas também as muitas milhares de outras espécies ameaçadas de extinção, resultante da insustentável ação humana”, declarou Richard Vigne, diretor da OL Pejeta, organização que era responsável pela sobrevivência do animal. 

Em 1960, pouco antes do nascimento de Sudan, existiam no planeta 2 mil rinocerontes-brancos-do-norte vivos. Uma década depois, eram apenas 700 rinocerontes. Agora, restam apenas duas fêmeas - suas filhas Najin e Fatu. 

Uma morte por um chifre

Para Maria Lúcia Lorini, coordenadora substituta do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UNIRIO, a morte de Sudan representa a extinção da subespécie, causada pela caça furtiva e alta demanda por seus chifres, que valem mais que ouro e diamante. 

- Foi a perda do último potencial vivo de reprodução, e a ação humana foi a principal causadora da extinção desses animais -, afirma. A especialista espera que isso sirva de alerta. - Cada vez mais animais caminham para a extinção. Mas espero que, com o desaparecimento de espécies carismáticas e chamativas, a humanidade se atente também para outros animais. Não podemos chegar ao ponto de precisar investir em reversão, porque isso tudo tem um preço e custará caro -, complementa a bióloga. 

Ainda de acordo com Maria Lúcia, tal acontecimento pode provocar impacto no balanço natural da biodiversidade. - A extinção de qualquer animal é uma ameaça também aos humanos, afinal, afeta serviços ecossistêmicos dos quais dependemos -, finaliza. 

Mas há uma última esperança. Os cientistas coletaram o material genético de Sudan e estão desenvolvendo técnicas de fertilização in vitro utilizando óvulos das duas fêmeas restantes. A partir daí, os embriões que vingarem serão implantados em rinocerontes-brancos-do-sul, porque as do norte já não tem condições físicas para suportarem gestações. 

Ameaçados

A espécie de rinoceronte-branco-do-norte é retratada pelo fotógrafo Érico Hiller na exposição “Ameaçados - Planeta em Transformação”, em cartaz no Museu do Amanhã. O drama destes animais reforça a reflexão sobre os efeitos das ações humanas.

A mostra reúne imagens dos últimos animais da subespécie pelo olhar de Érico Hiller, que também é autor do trabalho “A Jornada do Rinoceronte”, que virou um livro que denuncia práticas criminosas e superstições que provocam a extinção destes mamíferos. 

No próximo 03 de abril, o tema fará parte do seminário "O que está ameaçado?", que será realizado no Observatório do Amanhã. O local receberá o fotógrafo e Márcia Hirota, da organização S.O.S Mata Atlântica, para uma discussão sobre como a humanidade tem colocado em xeque os ecossistemas do planeta.

* Thaís Gesteira é estagiária da Gerência de Conteúdo do Museu do Amanhã.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.