O que o Amanhã tem a ver com a nossa alimentação? | Museu do Amanhã

O que o Amanhã tem a ver com a nossa alimentação?

Amigos
Pessoas nos jardins do Museu no evento de lançamento do NOZ / Foto: Aline Andrade

Por Camila Leporace*

No dia 2 de julho, os jardins do Museu do Amanhã receberam mais de 50 produtores de alimentos que fazem parte da Junta Local para uma grande festa, durante a qual foi lançado o programa de Amigos do Museu - o NOZ. Os visitantes foram convidados a experimentar novos sabores e a refletir sobre os hábitos alimentares e a maneira como eles influenciam no futuro.

O objetivo de fazer o lançamento em parceria com a Junta Local foi aproximar os consumidores de alimentos dos produtores locais, estreitando essa relação que tem como característica não depender dos grandes centros de distribuição. Além disso, os produtores locais têm uma grande preocupação com a sustentabilidade, que está em linha com as motivações do Museu do Amanhã. Queremos incentivar o público que visita o Museu a pensar sobre como o ciclo de produção de alimentos e as nossas escolhas na hora de nos alimentar influenciam no nosso Amanhã.

- O princípio da produção orgânica é nutrir a terra. Se a terra está bem nutrida, ela vai gerar uma planta forte, e uma planta forte não pega doença. É como se fosse o seu corpo. Se você está enfraquecido, vai ter gripe, adoecer - explica Susana Feichas, do sítio de orgânicos Manacá, que esteve no evento oferecendo alimentos livres de agrotóxicos e aditivos químicos.

- O mais importante é a gente ter escolha. Senão, amanhã a gente está comendo só comida em lata vinda de uma usina. Se a gente não preservar o gosto, o sabor, a gente não vai ter mais comida como teve um dia. – Destacou Monique Mathon, da Deli Magui. De olho na preservação do sabor que os alimentos naturais são capazes de oferecer, a produtora esteve na feira levando patês e carnes preparados longamente, com muita dedicação e tempero caseiro.

Futuro ou passado? Alimentação natural resgata valores de tempos atrás

Apesar de os alimentos trazidos pelos pequenos produtores terem influência na criação de um futuro mais consciente, na verdade eles resgatam o que nossos antepassados faziam. É o que explica Wagner, que trabalha com Susana no sítio Manacá.

- Não se usava o veneno, não se usava adubos químicos, que vieram a distorcer o que é o vegetal. O processo de absorção dos nitrogênios da terra pelo vegetal é lento e, se acelerado, ele acaba não absorvendo esses nutrientes. O orgânico preserva esse tempo, que é o tempo do vegetal.

Tradição e respeito à natureza também marcam a história da Taberna da Amazônia, produtora de castanhas desidratadas. Anne Caroline Melo, que esteve na feira, conta que sua família tem uma pequena usina de beneficiamento de castanhas no Norte do Brasil, onde também há grandes indústrias que vendem o produto para todo o país. Na usina da família de Anne, o produto é coletado por comunidades tradicionais, dentro de uma unidade de conservação que tem áreas de castanhagem existentes desde a época de seu tataravô – e que foram passando de geração em geração.

- Eu acredito que o resgate do fazer tradicional e, principalmente, ter a rastreabilidade do produto garantem que a gente tenha um produto de qualidade na nossa mesa.

Nesse cenário de recuperação de antigos valores ligados à alimentação, Anne Caroline ressalva a importância de favorecer o crescimento do pequeno produtor e de envolver a comunidade local na produção dos alimentos, pois acredita que isso aumenta a conexão e a confiança entre quem produz e quem consome. Com a ajuda da Junta Local, a família de Anne tem conseguido levar suas castanhas mais longe, alcançando públicos de outras regiões brasileiras e ampliando a produção.

Alimentação natural

Quem está em busca de uma alimentação mais natural e tem vontade de adotar novos hábitos pode encontrar todo tipo de alimento, até mesmo sorvetes e brownies. A Hoba Sorvetes esteve na feira oferecendo opções orgânicas e, ao mesmo tempo, veganas, pois os sorvetes não levam leite ou gordura animal em seu preparo. O produtor Bruno Karraz conta como a marca decidiu eliminar o leite da produção, procurando em primeiro lugar evitar a poluição gerada pela pecuária.

- Queríamos fazer um produto que não denegrisse de forma alguma o meio ambiente. Começamos a olhar como a indústria faz sorvete hoje em dia: à base de muito açúcar, muito carboidrato e muita gordura, e a gordura tem origem animal, é creme de leite e leite.

Saiba mais sobre os alimentos orgânicos

No cultivo de alimentos orgânicos, até mesmo a água utilizada deve ser observada: precisa ser de nascente. Caso seja usada água de rio, ela pode já ter sido contaminada por agrotóxicos. E manter a terra nutrida não é tarefa simples, exige bastante dedicação. Um dos pontos fundamentais a serem observados é o rodízio que precisa ser feito na plantação.

- Onde você plantou couve você vai plantar cenoura na próxima vez – explica Susana, do Manacá. – Há um rodízio constante entre raízes, caules, folhas, sementes, frutas.

O planejamento dessa alternância, como explica a especialista, é bastante complicado, pois enquanto a alface, por exemplo, leva três meses para florescer, a cenoura leva de quatro a cinco. Mas é uma medida que vale muito a pena, não só pela preservação dos nutrientes da terra como por ajudar a evitar as pragas na plantação.

Segundo Susana e Wagner, manter a plantação longe de pragas sem usar produtos químicos é um desafio. Mas o rodízio no cultivo de alimentos ajuda. Afinal, como eles explicam, ao contrário do que acontece numa monocultura, em uma fazenda com o rodízio na plantação as pragas acabam não conseguindo se instalar. Elas são “expulsas” quando determinado produto é colhido e se inicia o período de plantação de outro item no lugar dele.

Para aumentar a proteção da plantação de forma natural, os produtores lançam mão de recursos como a lavanda, planta com cheiro bastante característico que é posicionada ao lado do que está sendo cultivado e ajuda a espantar as pragas.

*Camila Leporace faz parte da equipe de Comunicação do Museu do Amanhã

Conheça o NOZ - Amigos do Amanhã e saiba como participar

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.