O Pantanal é a maior planície inundável do mundo: cerca de 200 mil km2, que equivalem à soma dos territórios de Portugal, Holanda, Bélgica e Suíça. Um sistema regulado por grandes cheias anuais e naturais, próprias da região e influenciadas pelo regime de degelo dos Andes no verão. No ano de 2020, esse santuário de fauna, flora e pessoas, presenciou um paradoxo. A estupidez de uma certa fração da espécie humana, incentivada por monstros disfarçados de políticos, provocou a maior queimada criminosa da história do bioma. Em 2024, o cenário se repetiu.
O mesmo fogo que aquece e encanta, queima e destrói. A água que irriga é a mesma que afoga. Para o filósofo grego pré-Socrático Empédocles (495 a.C - 430 a.C.), o elemento sai do seu equilíbrio quando a força que domina é a do ódio e da raiva. Por outro lado, o elemento em equilíbrio é produto da força do amor. Na exposição “Água, Pantanal, Fogo”, Lalo de Almeida documenta o fogo do ódio, enquanto Luciano Candisani retrata a enchente de amor. As imagens denunciam e informam, dando forma e conteúdo aos números da ciência e às notícias dos jornais. Sobretudo, a arte da dupla emociona. O contraste entre a exuberância da vida e a violência do crime que leva à morte, entre a água e o fogo, entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio, entre o encanto e o medo, nos leva à nossa raiz mais íntima. O resultado é maravilhamento com a beleza da natureza e indignação com a estupidez, o crime e a impunidade. Desse turbilhão emerge a esperança, aquela que Paulo Freire (1921-1997) dizia ser do verbo esperançar e que nos leva à ação, inspirada pelo encontro da arte com a ciência e com a emoção que vem do espírito.
Fabio Scarano, curador do Museu do Amanhã
Mudança climática: Água Pantanal Fogo
Águas que inundam, águas que vazam. Seca que chega, fogo que incendeia. A região do Pantanal tem a singularidade de ser regida, desde sempre, pelo equilíbrio do ciclo das águas, vital para a preservação da rica biodiversidade que pulsa em seus rios, corixos e lagoas, na cheia e na seca, no solo e no ar. O uso abusivo dos recursos do bioma, que produz um estado de desequilíbrio cada vez mais visível, pode, segundo especialistas, resultar na desertificação dessa região.
A atitude do homem contemporâneo, que pouco faz para frear a escalada de desmatamento, emissão de gás carbônico e desvio de nascentes de água para a agropecuária não sustentável, está nos levando a um estado de ecocídio em todo o planeta.
Lalo de Almeida e Luciano Candisani, dois dos mais proeminentes e premiados fotodocumentaristas brasileiros, vêm dedicando parte de suas trajetórias profissionais a documentar o Pantanal como uma forma de dar visibilidade a essas pulsões de vida e de morte que surgem justapostas entre a época das cheias e a da seca.
Lalo fotografou o Pantanal durante os incêndios de 2020 e 2024, que calcinaram cerca de 26% da região e mataram em torno de 17 milhões de animais vertebrados. Suas imagens circularam pelo mundo e ajudaram a alertar a sociedade civil, a classe científica, o governo brasileiro e organismos internacionais sobre a gravidade do problema. Essas imagens, em parte aqui expostas, deram a ele o prestigiado prêmio World Press Photo.
Luciano documenta ecossistemas ao redor do mundo de forma sistemática. Na última década, passou parte de seu tempo submerso no Pantanal. Suas imagens, de rara excelência técnica, resultaram num acervo de suma importância para embasar pesquisas e mostrar ao mundo a urgência no combate aos crimes ambientais que acabam por gerar, também, as mudanças climáticas. Por esse trabalho, ele ganhou o prêmio Wildlife Photographer of the Year, em 2012.
Lalo de Almeida e Luciano Candisani são cronistas visuais que elegem temas sensíveis para investigar por longos períodos, em parceria com cientistas e pesquisadores. Para obter o resultado exposto nesta mostra, criam logísticas complexas e se expõem a vários tipos de perigo.
É em trabalhos como esses, que aliam idealismo, paixão e militância, que a fotografia alcança seu ápice, tornando-se uma janela aberta a revelar as idiossincrasias e o sublime do mundo.
Esta mostra busca gerar novas consciências não apenas sobre a situação do Pantanal, mas também acerca de nossas atitudes erráticas, que poluem o ar, os rios e os mares, causando danos por toda parte. Estamos diante de um exemplo crítico: a Baía de Guanabara recebe, além de resíduos industriais, dejetos do esgoto não tratado de quinze municípios, o que destrói a vida marinha e ameaça arruinar a beleza desse lugar esplêndido.
Eder Chiodetto, curador da exposição
exposição-manifesto: um convite à ação
As ameaças ao delicado regime hídrico que sustenta a enorme biodiversidade do Pantanal, um dos seis principais biomas brasileiros, tornaram-se evidentes nos últimos anos. Afetado pelo desmatamento nas regiões altas próximas, que deixa desprotegidas as nascentes e as margens dos rios formadores do Pantanal, esse mundo de águas, descrito como “paraíso terrestre” pelos primeiros portugueses e espanhóis que lá chegaram no século 16, está cada vez mais seco. Pior: desde 2020, a região arde diante dos nossos olhos, numa série histórica de incêndios florestais.
Esta exposição foi pensada como um manifesto contra as perdas severas que as mudanças climáticas e a ação humana vêm impondo ao Pantanal, em uma longa (e continuada) história de agressão. Foi a sensibilidade do curador Eder Chiodetto que reuniu dois dos maiores fotógrafos em ação no Brasil hoje, Lalo de Almeida e Luciano Candisani, para compor um conjunto de imagens que contrapõe a beleza viva da paisagem pantaneira aos efeitos devastadores da seca e do fogo.
O que move o Documenta Pantanal é a crença no poder de manifestações culturais potentes – como as fotografias reunidas aqui – de documentar, alertar, sensibilizar e mobilizar públicos no Brasil e no mundo. Desde 2019, a iniciativa se empenha em apontar os efeitos das mudanças climáticas e da ação humana sobre o Pantanal em filmes, livros e campanhas, entre outras ações.
Para nós, faz todo sentido trazer Água Pantanal Fogo a um museu que se dedica a perscrutar nossos futuros possíveis. Tanto mais no ano em que o Brasil sedia a COP, principal conferência internacional sobre o clima e, ao mesmo tempo, vê se desenharem tantas ameaças ao nosso ainda deficiente regramento ambiental.
No centro desta exposição está um bioma de relevância internacionalmente reconhecida por sua biodiversidade e como fonte de água doce, e de forte influência sobre o clima brasileiro e sul-americano. O Pantanal é o paradigma de uma urgência que diz respeito a todos nós, que vivemos neste planeta. Mais do que defender a necessidade óbvia de conservar os nossos patrimônios naturais, interessa-nos, aqui, convocar públicos cada vez mais amplos a tomar consciência da gravidade da crise climática e a refletir sobre o que é preciso fazer para contê-la.
Mônica Guimarães e Teresa Bracher (Documenta Pantanal)
Ficha Técnica
MUSEU DO AMANHÃ
Diretor Executivo
Cristiano Vasconcelos
Curador
Fabio Scarano
Gerência Geral de Conteúdo
Camila Oliveira
Exposições
Caetana Lara Resende
Ingrid Vidal
Julia Deccache
Julia Meira
Guilherme Venancio
Rafael Salimena
Nathália Simonetti
Lorena Peña
Atendimento ao Público
Wagner Turques Guinesi
Alice Villa Frango
Nilson da Silva RamosAlessandra Batista da Conceição Penna
Brenda Pinheiro de Oliveira
Caio Correa de Sousa
Caue de Albuquerque Barroso
Douglas Porto Velho
Fernando Lopes Barbosa
Gabriel da Silva Ramos
Guilherme Augusto Gouveia
Igor Pereira Alencar
Ismael Freire de Almeida
José Americo da Rocha Filho
José Francisco de Souza
Luis Rodrigo dos Santos
Mariana Macedo do Nascimento
Matheus dos Santos Oliveira
Queren Priscila Oliveira de Souza
Rafael de Souza de Almeida
Raisa Medeiros de Oliveira
Shirlei de Oliveira Chagas
Vinicius Marcelo de Oliveira dos Santos
Vitor Santos da Silva
Yan Gomes Silveira
Educação Museal
Stephanie Santana
Renan Freira
Bianca Paes Araújo
Bruno Baptista
Fernanda de Castro
Juan Barbosa
Julia Mayer
Juliana Câmara
Marcus Andrade
Maria Luiza Lopes
Nicolle Portela
Nicolle Soalheiro
Thainá Nunes
Vinicius Andrade
Vinicius Valentino
Projeto Expográfico
GRUA
Caio Calafate
Pedro Varella
Igor Machado
Projeto de Design
Mariana Boghosian
Mariana Solis
Alexandre Carvalho
Anna Janot
Cenotécnico
Camuflagem Cenografia
Gráfica
Base Comunicação Visual
Montagem Fina
Kbedim
Instalações Audiovisuais
Luiz Lima
Ana Barth
Bruno Carreiro
Edson Castro
Vanderson Vieira
Inovatec Soluções Audiovisuais
Instalação Elétrica
Francisco Galdino
Diogo Freire
Marlon Vidal
Silas Miranda
Alexandre Souto
Jefton Elias
Ezequiel Tavares
Jose Petrucio
Camila Fraga
Piso e Mapa tátil
Paju SA Engenharia
Objetos sensoriais
Luiza Kemp
Acessibilidade de conteúdo
Juliette Viana
Produção
Órbita Produções
Projeto de emergência
PI Projetos e Instalações
Seguro das obras
Tokio Marine
JMS Seguros
ÁGUA PANTANAL FOGO
Fotografias
Lalo de Almeida
Luciano Candisani
Curador
Eder Chiodetto
Coordenação geral
Mônica Guimarães
Teresa Bracher
Coordenação de produção
Cassia Rossini
Produção
Isadora Falconi
Identidade visual
Vitor Cesar
Design
Karime Zaher
Coordenação editorial
Heloisa Vasconcellos
Texto e edição
Teté Martinho
Consultoria
Sandro Menezes Silva
Revisão
Vera Maselli
Versão em inglês
Anthony Doyle
Versão em espanhol
Larissa Bontempi
Mapas
Alessandro Meiguins
Diretores de imagem e videomapping
André Grynwask
Pri Argoud (Um Cafofo)
Trilha sonora do vídeo
Marcelo Pellegrini
Impressões fotográficas
Estúdio Kelly Polato
Administrativo
Júlia Sousa
Uma produção
Documenta Pantanal
Agradecimentos
Acaia Pantanal
Adelaide D’Esposito
Agustina Pezzani
Alexandre Bossi
Amadeu Barbosa
Amir Labaki
Ana Maria Barreto [Fazenda São Francisco do Perigara]
Ana Roman
Angela Kuczach
Angelo Rabelo
Anis Chacur
Ari e Silvia Weinfeld
Armando Lacerda
Beatriz Sayad
Belkiss Rondon
Camila Schweizer
Carla Almeida
Carlos Martins
Caroline Leuchtenberger
Claudia Gaigher
Cristina Barros – Tininha
Fernando Tortato [Panthera]
Folha de S.Paulo
Francisco Valeriano [Prevfogo/Ibama]
Gabriela Mendes
Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal [Sergio Eduardo Barreto, Fernanda Jacoby, Nataly Nogueira, Paula Helena, Fernanda Alves, Rodrigo Piva, Luka Moraes]
Frico Guimarães
Guilherme Rondon
Gustavo Figueirôa
Ham Jung-Min
Haroldo Palo Jr. (in memoriam)
Ibama [Marcos Eduardo Coutinho]
Instituto Centro e Vida – ICV
Ivan Freitas da Costa [Porto Jofre]
Leonardo Gomes
Luciana Leite
Lucas Pupo
Luiz Vicente
Lygia Barbosa
MapBiomas Brasil
Marcy Junqueira
Maria Inez Barreto
Marina Moraes
Mario Haberfeld
Marta Magnani
Matthew Shirts
National Geographic [Roff Smith, Paul Nicklen]
Neiva Guedes
Nina Valentini
Paulina Chamorro
Paulo Gambale
Pedro Lacerda de Camargo
Paulo Machado
Rafael Galvão [Fazenda Santa Tereza]
Renato Roscoe [Instituto Taquari Vivo]
Ricardo Casarin
Ruivaldo Nery Andrade
Sandra Guató [Terra Indígena Baía dos Guató]
Sara Matos
Sesc Pantanal
Simone e Eduardo Coelho
Sofia Marçal
Sthéphanie Mascara
Tasso Azevedo
Vanessa Rodrigues de Morais
Vitória Arruda
Agradecimentos especiais
Chalana Esperança
Cristiane Sultani
Instituto Homem Pantaneiro – IHP
Instituto SOS Pantanal
Onçafari
Rede Pró-UC
Renata Lima
Vera Patrício Gouveia