TERRA

6 Humanidade e biodiversidade: o risco da extinção das espécies no ecossistema terrestres

Nosso planeta Terra, único neste imenso Universo sobre o qual temos conhecimento da existência de vida, contém uma enorme multiplicidade de seres vivos à qual chamamos biodiversidade, ou diversidade biológica. Para se ter uma ideia dessa riqueza, basta pensar nas estimativas que apontam cerca de 10 milhões de espécies vivendo atualmente na Terra, excluindo micróbios e subestimando espécies de pequeno tamanho, assim como as que vivem em locais de difícil acesso para os humanos, como os oceanos. Já o total de espécies identificadas e com nomes científicos gira em torno de 1,5 milhão, sendo que algumas estimativas recentes indicam 1,75 milhão (incluindo cerca de 100 mil vertebrados terrestres, plantas com flores e invertebrados com asas ou conchas). Desse total, as aves e os mamíferos são relativamente bem conhecidos, contando cerca de 10 mil e 4,3 mil espécies, respectivamente, e novas espécies continuam sendo descobertas. Quanto às espécies marinhas, apenas 250 a 300 mil foram descritas e ainda há muito para descobrir [1].

Quanto a nós, os seres humanos, embora tenhamos aparecido recentemente na escala de tempo evolutivo neste planeta, temos ocupado praticamente todos os ambientes terrestres. O processo de mudança econômica e social da Revolução Industrial (nos séculos XVIII e XIX), que teve como consequência a ampliação da produtividade alimentar e da expectativa de vida, também desencadeou um elevado crescimento populacional. Nas últimas décadas, essa maior presença dos humanos na Terra provocou uma intensificação da ação humana sobre a natureza, incidindo em acelerada remoção e degradação ambientais, que se traduzem em fortes pressões para a perda da biodiversidade.

Se considerarmos os últimos quinhentos anos, 844 espécies foram consideradas extintas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (International Union for Conservation of Nature – IUCN). Dessa soma, ainda que nas últimas duas décadas as extinções também tenham ocorrido com frequência no continente, a maioria das extinções registradas ocorreu em ilhas oceânicas. [2]

Para constatar uma extinção local, não precisamos ir muito longe. Um exemplo no estado do Rio de Janeiro é o sabiá-da-praia, Mimus gilvus, conhecido por seu canto, muito apreciado pelos humanos. Por ocasião da colonização do Brasil, essa ave era encontrada ao longo de toda a costa do estado, mas atualmente tem populações estabelecidas em apenas quatro áreas de restinga da região, onde a espécie está ameaçada pela perda do seu habitat (restinga) e por captura ilegal.[3]

Cientistas consideram que a atual taxa de extinção de espécies é, em média, entre cem e mil vezes maior que em níveis pré-humanos, e caminha para ser, em média, 10 mil vezes mais elevada. [4] Esses valores, considerados muito altos, indicam que a situação nos últimos anos é de extinção rápida, com tendência à aceleração. Diante dessa realidade, pode-se dizer que a extinção de espécies, embora seja um evento que ocorra naturalmente e que é irreversível, tem se dado em uma escala sem precedentes por pressão humana.

A atual taxa de extinção de espécies é, em média, entre cem e mil vezes maior que em níveis pré-humanos, e caminha para ser, em média, 10 mil vezes mais elevada. Esses valores, considerados muito altos, indicam que a situação nos últimos anos é de extinção rápida, com tendência à aceleração.


Além dos já frequentes tsunamis, tornados e furacões, temos testemunhado cada vez mais mudanças climáticas resultantes dessas alterações ambientais propiciadas pelos seres humanos, que ocasionam desastres como enchentes e secas extremas. Há também, além da perda do habitat (com sua consequente fragmentação) e das mudanças climáticas que ameaçam várias espécies (particularmente as endêmicas), [5] um outro fator agravante, de elevada ameaça no presente: as espécies exóticas e invasoras. Estas podem ter um impacto muito negativo para a sobrevivência de várias espécies, particularmente as nativas e com uso restrito do habitat.

Como se sabe, um ecossistema é criticamente dependente da biodiversidade, ou seja, das suas espécies e populações constituintes, e seu bom funcionamento é vital para a manutenção de espécies no planeta, pois determina que estas possam prover bens e serviços ambientais. Quando uma espécie se extingue, é provável que o mesmo aconteça com muitas outras, as quais interagem nos ecossistemas formando teias alimentares, por exemplo. Para entender o que é um ecossistema, deve-se levar em conta não só o conjunto de seres vivos mas também as interações que estes estabelecem entre si (como os efeitos que as diversas populações causam umas sobre as outras) e com o ambiente físico (como temperatura, precipitação ou chuva e vento). Em outras palavras, os ecossistemas são constituídos por todas as partes do mundo físico e biológico com que interagem.

Entre essas interações, as que se dão entre organismos podem ser consideradas positivas ou negativas no sentido de aumentar ou diminuir os tamanhos populacionais, respectivamente. Portanto, as interações entre espécies (como competição, predação, parasitismo, mutualismo e comensalismo) são múltiplas e permitem que haja uma rede entre elas. São moldadas pela evolução e ocorrem de maneira natural em um ecossistema.

Na maioria das vezes, as intervenções positivas humanas buscam reverter ou neutralizar intervenções negativas realizadas direta ou indiretamente pelos próprios seres humanos, como a destruição e a degradação ambiental, que levam espécies à ameaça de extinção e, portanto, à perda da biodiversidade.

Também intervenções externas, como as que têm sido feitas pelos seres humanos, podem ser positivas ou negativas. No entanto, a realidade é que, na maioria das vezes, as intervenções positivas humanas buscam reverter ou neutralizar intervenções negativas realizadas direta ou indiretamente pelos próprios seres humanos, como a destruição e a degradação ambiental, que levam espécies à ameaça de extinção e, portanto, à perda da biodiversidade. Um exemplo de intervenção positiva com que se tenta reverter esse quadro negativo é o manejo, que permite incrementar o tamanho populacional de alguma espécie ameaçada, ou ainda diminuir ou controlar uma espécie exótica ou invasora.

Se olharmos para o futuro, situando-nos diante do cenário atual de ameaça à biodiversidade por ação humana, podemos prever para os próximos 50 anos mudanças que podem ser graduais ou bruscas. Entre as mudanças que podem ocorrer de maneira gradual estão as alterações de distribuição de espécies em função de mudanças climáticas, como o aumento da temperatura. Além disso, mesmo para espécies com ampla distribuição, pode haver perda de biodiversidade nos limites de suas distribuições, por meio de extinção local (de parte das populações de uma espécie, com consequente perda de diversidade genética). Como a maioria dos serviços ambientais ou ecossistêmicos (benefícios proporcionados pela natureza) depende da biodiversidade, a perda de populações locais pode levar a uma redução desses serviços, tais como a polinização e a dispersão de sementes realizadas por diferentes grupos animais, como aves e mamíferos.

Quanto às mudanças bruscas, nas próximas cinco décadas poderemos perder boa parte das espécies ameaçadas e com distribuição muito restrita. Isso pode ocorrer principalmente por perda de habitat, mas também por introdução de espécies exóticas e invasoras (cujos efeitos podem ser devastadores) e mudanças climáticas (aumento de temperatura e consequente aumento do nível dos oceanos).

Embora previsões de extinção de espécies sejam de difícil realização devido a inúmeras variáveis envolvidas, pesquisadores têm mostrado que mudanças climáticas globais resultarão em extinção de um número considerável de espécies nas próximas décadas. Para diversos grupos de plantas e animais investigados, há estimativas de 15% a 37% de as espécies se extinguirem como resultado dos efeitos diretos ou indiretos (alteração do habitat) do cenário de aquecimento previsto para 2050. [6] Algumas espécies de flora e fauna, particularmente endêmicas e restritas a pequenas porções de ambientes costeiros, por exemplo, podem ser passíveis de extinção nesse período.

Uma das questões surgidas diante desse cenário está em saber até quando nossa espécie viverá de maneira sustentável neste planeta se continuarmos alterando a natureza da forma como o fazemos no presente. Para reverter esse quadro seriam necessárias ações como atividades de sensibilização da sociedade quanto a essas ameaças, programas governamentais para o monitoramento de espécies – particularmente as ameaçadas e/ou endêmicas – e também atividades de manejo de espécies exóticas e invasoras.

À pergunta “como será o amanhã?” podemos responder que ele será consequência do que fizermos hoje. Se reduzirmos as pressões negativas atuais, poderemos evitar os cenários mais pessimistas das previsões científicas. Atitudes como pensar, planejar e agir localmente podem se refletir em ações globais. Conscientizar o ser humano para que ele se sinta como mais um entre os demais seres vivos é vital para que possamos preservar o patrimônio mais precioso que temos no planeta, que é a biodiversidade da qual somos parte.

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