O Museu do Amanhã e o Instituto Ling acabam de lançar o projeto gratuito de formação Arte do Amanhã, focado em arte e tecnologia. A realização é do Laboratório de Atividades do Amanhã — LAA, que tem suas atividades patrocinadas pelo Santander
O ciclo de aprendizagem é composto por duas etapas complementares — uma online e outra presencial. A primeira, que acaba de abrir inscrições, corresponde ao Ciclo de Encontros Investigativos, formado por seis módulos temáticos e 20 profissionais criativos de destaque em diferentes campos das artes. Os encontros acontecerão entre 10 de abril e 18 de maio, promovendo trocas e reflexões sobre temas como Música e Narrativas Sonoras, Artes Performáticas, Audiovisual, Artes Plásticas, Design e Novas Mídias.
O programa será inaugurado em 5 de abril, com uma aula de abertura conduzida pelo curador do projeto, o artista visual Batman Zavareze. A proposta é estimular trocas orgânicas entre o público participante e os artistas convidados, que atuarão como provocadores criativos, incentivando novos olhares e experimentações.
Ao final da etapa online, os participantes que concluírem ao menos dois módulos poderão se inscrever no processo seletivo da residência artística presencial, a ser realizada no Laboratório de Atividades do Amanhã, no Rio de Janeiro, entre 17 e 30 de julho.
A residência tem como objetivo oferecer uma experiência prática de criação, promovendo o encontro entre arte e tecnologia e fornecendo ferramentas para o desenvolvimento de experiências, atividades ou protótipos inspirados nas discussões da formação.
A seleção dos quatro projetos participantes será realizada por um comitê formado pelo Laboratório de Atividades do Amanhã e o Instituto Ling.
curador-convidado
Batman Zavareze diretor-geral de renomados shows, diretor de arte e artista visual de grandes experiências, tem em seu curriculum um repertório de bem sucedidos eventos no Brasil e no mundo. Além disso, compartilha parte de seu tempo com projetos educacionais que tem ressonância a longo prazo na área digital. O privilégio de estar envolvido em pioneiros projetos nacionais de Arte e Tecnologia, faz com que ele divida estrategicamente seus saberes com pessoas, especialmente aquelas com dificuldade de acesso ao conhecimento. Em 2023, Batman Zavareze é curador convidado da Residência Artística — Arte do Amanhã.
abertura
Na abertura, Batman Zavareze apresenta o conceito do programa Arte do Amanhã e compartilhar o “como” de seus fazeres artísticos, além de vivências de sua extensa trajetória profissional. Aportando suas práticas e filosofias no campo da arte e tecnologia, introduz o tom da formação: estimular o pensamento e prática críticos e poéticos sobre a criação artística do futuro.
Módulo 1: Artes plásticas
Profissionais criativos:
Daiara Tukano
É artista, ativista e professora do povo Tukano (Yepa Maçã), discute sua cosmovisão e a trajetória de luta pela demarcação de territórios indígenas. Daiara propõe que o conceito mais próximo de “arte” em sua língua é Hori, que significa miração, luz, cor e visão espiritual. A arte, para ela, é uma forma de conhecimento e de estar no mundo.
É artista, curador e professor. Ele investiga os dispositivos técnicos como mediadores da percepção, com foco nas estruturas dinâmicas, narrativas, paradigmas vigentes, processos emergentes e regenerativos, e metodologias transdisciplinares. A produção de Velásquez é variada, incluindo instalações, objetos, vídeos, performances audiovisuais e imagens geradas com recursos algorítmicos. Seu trabalhoenvolve frequentemente oo espectador em labirintos de narrativas paradoxais, hiperbólicas e, por vezes, interativas e ritualísticas
Pâmela Cezário, que se identifica como uma mulher preta e cria do Morro do Borel na Zona Norte do Rio, propõe um “mergulho no quintal da minha casa”. Ela enfatiza que sua história e identidade se baseiam em sua ancestralidade e origens, e não somente em seus títulos profissionais. Ela define a arte como uma das armas mais revolucionárias para a transformação.
Os artistas, pesquisadores e gestores culturais baianos Felipe Assis e Rita Aquinoos revisitam a própria trajetória profissional para refletir sobre a curadoria como fazer artístico, abordando temas como a arte em tempos de crise, a importância da participação e da colaboração nas obras e projetos, e a necessidade de questionar relações hegemônicas e promover o pertencimento e o vínculo através da arte.
Bianca Ramoneda narra sua trajetória multifacetada — de jornalista a atriz, roteirista e artista visual — destacando como a poesia, especialmente a obra de Manoel de Barros, serviu como um “fio invisível” para costurar suas diversas linguagens, transformando o desconforto em seu “não-lugar” criativo. A apresentação culmina na discussão de projetos de direção de arte e concepção poética que demonstram a potência da simplicidade sofisticada e a busca incessante pelo encantamento na arte.
Irmãs Brasil, uma dupla de artistas travestis (Vinny Ventania e Vitória Young) que utilizam a arte como uma estratégia de sobrevivência e visibilidade. As artistas abordam como sua experiência de vida, desde a infância no interior de São Paulo em um ambiente machista e a cultura de rodeios, até o uso da transição hormonal como material artístico, A dupla enfatiza a urgência de sua presença desobediente em espaços como museus e a recusa em serem relegadas a nichos temáticos, insistindo que a arte do amanhã é construída pela permanência viva e pela transformação constante.
Matheus Leston partilha sua trajetória como músico e artista multimídia, discutindo como suas obras, como a série visual Pedra Pássaro e o projeto musical Orquestra Vermelha, surgem da criação de sistemas em vez de composições lineares. Leston demonstra ainda como utiliza softwares como o Max para criar instrumentos performáticos e interativos, exemplificando a natureza de seus projetos autorais como um curto-circuito entre forma e conteúdo, onde a tecnologia atua como linguagem e não apenas como ferramenta.
Nico Espinoza, compositor e artista transdisciplinar, explora a relação entre som e técnica, diferenciando a “sensibilidade sonora” como um estado de escuta ativa e o “pensamento técnico” como a forma íntima de um indivíduo se relacionar com o mundo para criar suas próprias técnicas.
Saskia é artista e discute sua visão de mundo e obra através de conceitos como a “careta” como anarquia, a rasura como criação e a antilinguagem da agonia, que busca desestabilizar padrões estéticos e comportamentais. defende o hackeamento da informação e a apropriação anarquista de arquivos e linguagens, exemplificadas pela memética e pela prática do sampling, como formas de resistência e de criação de novas realidades acrônicas.
A diretora e roteirista Sabrina Fidalgo traz uma provocação sobre a distinção entre “cinema” e “audiovisual”, onde ela argumenta que o cinema se diferencia por sua atemporalidade, propósito artístico e enfoque na linguagem, enquanto o audiovisual moderno é frequentemente visto como "produto" ou "conteúdo" descartável.
Bebeto Abrantes compartilha suas experiências radicais de produção durante a pandemia, como o filme Me Cuidem-se, que exemplifica um novo modelo de autoria e captação de imagens à distância, e discute o surgimento e a relevância de cinemas fora do eixo, como o cinema indígena e o de periferia, que trazem novas cosmovisões para a tela.
Dani Dacorso, fotógrafa e artista visual, explora como o fazer artístico é profundamente ligado à vivência e aos afetos, começando com sua formação no fotojornalismo e na cena musical urbana dos anos 80 e 90, e evoluindo para um trabalho documental e autoral, especialmente na cena do funk carioca.
Andrey Hermuche narra sua vasta experiência em cenografia, direção de arte e criação para diversos campos—desde artes plásticas, teatro e cinema até eventos de grande escala e marketing corporativo—enfatizando sua metodologia única que combina rigorosa disciplina técnica e planejamento estratégico com uma busca incessante pela inspiração e inovação.
Gabriela Castro é arquiteta e urbanista que compartilha sua trajetória profissional, marcada pela exploração da geometria, tridimensionalidade e luz, em projetos que abrangem desde joalheria e cenografia até instalações de arte e tecnologia, exemplificando a natureza interdisciplinar do programa.
Maribê, designer gráfica e diretora de arte à frente do Estúdio Lombra, compartilha sua jornada e visão do design como um agente político de transformação social e um processo criativo de autorreflexão. Ela destaca a importância da crença em si mesmo como o primeiro passo para qualquer revolução criativa, incentivando a experimentação, a desobediência construtiva e a valorização das tecnologias sociais e ancestrais em detrimento de uma busca incessante pela perfeição.
Rafa Diniz é um artista e educador de arte computacional, que compartilha sua trajetória, detalhando sua evolução de compositor de música erudita para artista que utiliza a computação como principal meio de produção de imagem e som. Diniz discute suas influências, o uso de linguagens de programação como Processing e SuperCollider, e como a arte generativa, o ruído e a colagem se manifestaram em suas obras visuais e sonoras, culminando em uma reflexão final sobre a necessidade de distribuição de renda como a verdadeira "tecnologia do futuro" para democratizar a expressão artística.
O artista visual e programador Caio Fazolin, que compartilha sua trajetória e trabalhos que exploram a relação entre arte, tecnologia e cultura, utilizando linguagens computacionais, bancos de dados e sistemas. Fazolin demonstra diversos projetos, desde a performance virtual Uruguai, construída com fotogrametria e o motor de games Unreal Engine, até cenografia digital para shows (Racionais Mc’s e Titãs), instalações com arte generativa e videomapping, culminando em discussões sobre o potencial e os desafios éticos da Inteligência Artificial na produção artística.
Zaika dos Santos, artista, cientista de dados e pesquisadora neurodiversa, provoca a audiência com uma profunda reflexão sobre a intersecção entre ancestralidade, inovação, ciência e tecnologia, utilizando conceitos como o Oráculo de Ifá como tecnologia pré-colonial e discutindo a democratização do acesso à tecnologia digital.