A arquitetura de Santiago Calatrava | Museu do Amanhã

A arquitetura de Santiago Calatrava

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A arquitetura e o paisagismo do Museu, que transformaram o Píer Mauá / Foto: Byron Prujansky

Concebido como um dos ícones arquitetônicos do Porto Maravilha, projeto de requalificação da região portuária do Rio de Janeiro – maior projeto de desenvolvimento urbano em curso no país –, o Museu do Amanhã ocupa 15 mil metros quadrados, cercado por espelhos d’água, jardim, ciclovia e área de lazer, numa área total de 34,6 mil metros quadrados do Píer Mauá.

Sua forma longilínea, inspirada nas bromélias do Jardim Botânico, foi projetada de maneira a se integrar à paisagem ao redor e, especialmente, deixar visível o Mosteiro de São Bento, um dos mais importantes conjuntos barrocos do país. O conjunto arquitetônico do entorno ainda inclui o edifício A Noite (primeiro arranha-céu da América Latina e sede da Rádio Nacional) e o Museu de Arte do Rio (MAR), entre outros marcos.

“A ideia é que o edifício fosse o mais etéreo possível, quase flutuando sobre o mar, como um barco, um pássaro ou uma planta”, explica o autor do projeto, o arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que passou temporadas na cidade e registrou seu processo criativo em mais de 600 aquarelas ao longo do projeto. A forma do edifício, porém, não é produto de uma pura metáfora ou uma ideia arquitetônica, destaca o arquiteto. “É o resultado de um diálogo muito consistente para que o edifício se alie à intenção de ser um museu para o futuro, como uma unidade educativa”, diz.

Considerado um dos mais importantes arquitetos da atualidade, Calatrava foi um dos responsáveis pela revitalização do porto de Buenos Aires – é de sua autoria a Puente de la Mujer – e da cidade de Valência, com a Cidade das Artes e das Ciências, –, entre outros projetos de importância internacional. Em 2015, ele foi o vencedor do Prêmio Europeu de Arquitetura, concedido pelo Museu de Arquitetura e Design Chicago Athenaeum e pelo Centro Europeu de Arquitetura, Arte, Design e Estudos Urbanos.

Paisagismo assinado pelo escritório Burle Marx

O edifício, em sua arquitetura e diretrizes de sustentabilidade, integra-se como parte do conteúdo do Museu do Amanhã, incentivando a discussão de temas como utilização da energia solar, novas formas da arquitetura moderna, relação com a paisagem da cidade e recuperação da Baía de Guanabara. “Um passeio ao redor do Museu é uma lição de sustentabilidade, de botânica, uma aula do que significa energia solar’”, exemplifica Calatrava. “O edifício é como um organismo e se relaciona diretamente com a paisagem.”

O passeio se alonga pelos jardins, que se transformam em um novo parque para a cidade, com paisagismo assinado pelo escritório Burle Marx. Foram utilizadas espécies nativas e de restinga, com o objetivo de ressaltar as características da zona costeira da cidade do Rio de Janeiro, facilitar a adaptação da vegetação, atrair mais a fauna da região e reforçar o aspecto didático do jardim.

Em 5.500m² de área plantada, se distribuem 26 espécies diferentes, como ipês roxo e amarelo, quaresmeira, pau-brasil e pitangueira, além de arbustos nativos de restinga e palmeiras. Com design arrojado e cobertura metálica de 3.810 toneladas, o museu exigiu equipamentos de vanguarda no Brasil, com a importação de maquinário necessário para dar formas fluidas ao concreto, matéria-prima principal do edifício.

A cobertura metálica avança em grandes balanços – 70 metros de comprimento em direção à praça e 65 metros sobre o espelho d’água voltado para a baía –, que exigiram ensaios em túnel de vento para que a dinâmica correta estivesse garantid a. “Foi um projeto muito desafiador em termos de construção”, conta a gerente geral de Patrimônio e Cultura da Fundação Roberto Marinho, Lucia Basto. “Sempre procuramos criar algo que agregue valor e destaque a preocupação com o meio ambiente e o ser humano. Nossa intenção, com o museu, era criar algo que instigasse o visitante a entender a época em que vivemos.”

O gerenciamento do projeto de arquitetura ficou a cargo do escritório Ruy Rezende Arquitetura. Sobre a estrutura metálica da cobertura, há 48 conjuntos móveis no formato de asas metálicas, onde estão instaladas placas fotovoltaicas. Essas asas se movimentam ao longo do dia de acordo com a posição do sol, de maneira a otimizar o aproveitamento da luz solar. O projeto privilegia a entrada de luz natural, com esquadrias de vidro nas fachadas e esquadrias triangulares nas laterais. 

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.