Dia da Terra: uma boa data para começar uma mudança de rumos
Por Emilio Lèbre La Rovere*
A Economia só vê o curto prazo, pois o mercado é míope e não vê as consequências de perseguir o máximo de riqueza aqui e agora. Já a Ecologia garante a sobrevivência a longo prazo, mas não se preocupa em otimizar o desempenho agora. As duas precisam andar juntas para enxergar bem o caminho, aqui perto e lá longe. Mas, para escolher bem a direção em que elas devem andar, precisam da orientação de outra companheira – a felicidade das pessoas.
Hoje, estamos andando mal e na direção errada, rumo a um abismo e nem por isso mais felizes. Na busca pelo máximo de lucro imediato e consumindo cada vez mais bens materiais, estamos usando carvão e petróleo demais para mover a indústria, a agricultura, os transportes e gerar a eletricidade de que precisamos. Eles não vão acabar tão cedo. O problema é outro: muito antes de se tornarem raros, a humanidade será sufocada pela fumaça da sua queima, que vai se acumulando na atmosfera e mudando o clima do planeta até torná-lo inabitável.
O Acordo de Paris pode ser um primeiro passo para mudar este caminho. Na capital francesa, em dezembro passado, os representantes de quase todos os países do mundo (195!) decidiram que precisamos parar de queimar carvão e petróleo. Para isso, os governos e parlamentos nacionais devem assinar este Acordo, e vão começar a fazer isso neste 22 de abril, o Dia da Terra.
Em cada país, para que este acordo saia do papel, teremos de cobrar de nossos governos a aplicação de medidas eficazes para reduzir o consumo da gasolina, do óleo diesel e de todos os demais derivados do petróleo e do carvão. Temos de passar a usar máquinas, equipamentos, produtos e veículos que façam seu serviço consumindo menos energia. E usar outras fontes para produzi-la: renováveis, como a solar, a eólica, a biomassa de florestas plantadas e os biocombustíveis como o álcool da cana de açúcar – para mover nossa economia, substituindo o petróleo e o carvão.
Para tornar possível este caminho mais ecológico, temos de usar instrumentos econômicos também: cobrar bem mais caro pelo uso de petróleo e carvão, para desestimular seu uso, e reduzir o preço das energias renováveis, para incentivar sua expansão.
Além de pressionar e vigiar nossos governos, podemos fazer a nossa parte como consumidores individuais, buscando um padrão de consumo suficiente para atender nossas necessidades sem exageros consumistas e escolhendo os produtos e serviços fabricados da forma mais ecológica possível. Também podemos nos organizar para promover ações coletivas que ajudem a melhorar o clima, como a plantação de árvores.
Estamos muito atrasados. Já poluímos a atmosfera muito além de um limite seguro, e a sociedade precisa mudar com urgência para salvar a sua casa e ser mais feliz. Que tal começarmos neste Dia da Terra? É mesmo um dia bem escolhido para mudar o rumo da nossa espaçonave Terra na sua viagem pelo espaço e na História.
* Emilio Lèbre La Rovere é coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente e do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da UFRJ