Erros que se repetem | Museu do Amanhã

Erros que se repetem

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Vazamento químico seguido de incêndio no Porto de Santos / Foto: Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de São Paulo

Poucos meses depois do rompimento de uma barragem de mineração provocar um dos maiores desastres ambientais brasileiro, é preocupante que a segurança em operações que envolvem produtos químicos não seja tema somente quando uma tragédia já aconteceu.

O vazamento químico seguido de incêndio de grandes proporções que atingiu o Porto de Santos no início de janeiro, o segundo incidente deste tipo em menos de um ano, gerou questionamentos entre especialistas justamente sobre a segurança do maior terminal portuário do Brasil.

No último dia 14, o fogo atingiu vários contêineres abrigados no Guarujá depois que a chuva entrou em contato com a substância química dicloroisocianurato de sódio, armazenada em forma de grãos e em pequenos frascos. O material químico estava no interior de um contêiner da empresa Localfrio – Armazéns Gerais Frigoríficos.

A névoa química se espalhou por diversos municípios da Baixada Santista e afetou parte da população daquela região, atendida em hospitais por inalação de gás, ardência nos olhos e mal-estar pela fumaça. Órgãos de fiscalização constataram a emissão de gases tóxicos para a atmosfera que causaram problemas à saúde de moradores e a morte de uma idosa. 

Leonardo Viana, doutor em Química e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), explica que o dicloroisocianurato de sódio é bastante reativo em contato com ácidos. Naquela região, devido à poluição ambiental, a água da chuva é relativamente ácida, o suficiente para desencadear a reação explosiva. Ainda de acordo com Viana, o produto químico vazado pode gerar efeitos tóxicos duradouros devido à sua ação corrosiva e oxidante, e até interferir no pH da água do mar, o que afetaria espécies importantes.

Para a engenheira química e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Waleska Gianinni, isso não teria acontecido se fossem tomadas as medidas necessárias no armazenamento. “Este produto deve ser armazenado em recipientes bem fechados, em locais frios, secos e bem ventilados e, de preferência, com piso resistente a ácidos”, disse Waleska, argumentando que tal procedimento não ocorria no local, já que um dos contêineres tinha uma ruptura que permitiu a entrada da água da chuva.

Impactos

O dicloroisocianurato de sódio é utilizado em desinfetantes e no tratamento de águas, como em piscinas. O produto precisa de atenção especial porque, quando entra em combustão, pode gerar uma nuvem ácida prejudicial para a vida. Os impactos podem alcançar o lençol freático, contaminar o solo e a vegetação, além de influenciar animais marinhos e terrestres.

O acidente é só mais um efeito que mostra como o homem tem impactado o planeta. É o que os cientistas chamam de Antropoceno, a Era dos Humanos, termo formulado por Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química de 1995. O prefixo grego “antropo” significa humano; e o sufixo “ceno” denota as eras geológicas, momento onde a civilização se tornou uma força de alcance planetário, e de duração e abrangência geológicas. 

Chegamos ao ponto em que é necessário discutir com urgência nosso papel na intensidade destruição do meio-ambiente. O tema é discutido amplamente na Exposição Principal do Museu do Amanhã, em vídeos e interativos que mostram a interação do homem na Terra através dos séculos e a resposta da natureza – muitas vezes intensa e mortal.

Como evitar novos problemas?

Uma forma de prevenção a desastres desse tipo é uma maior ação de órgãos fiscalizadores para punir casos de irregularidade, afirma a química Camila Capelini.  

Ela também ressalta que é obrigatório para a segurança das operações que todas as empresas que trabalhem com produtos químicos tenham, inclusive no transporte, a Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ).

A FISPQ fornece informações sobre vários aspectos dos produtos químicos e seus possíveis impactos, trazendo também recomendações para proteção e o que fazer em situações de emergência.

Por Thaís Cerqueira, estagiária da Gerência de Conteúdo do Museu do Amanhã

 

 

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