Um elo entre Ciência e Cristianismo | Museu do Amanhã

Um elo entre Ciência e Cristianismo

Exposição Principal
O antropólogo Luiz Fernando Duarte, em palestra no Observatório do Amanhã

Há multiplicidade de culturas mesmo dentro da Região Metropolitana do Rio, e o que chamamos de "Ciência" decorre de uma tradição do Cristianismo. Ao desconstruir discursos comumente aceitos na sociedade moderna, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte, consultor do Museu do Amanhã, falou, nesta terça feira (2), sobre conflitos e perspectivas da diversidade cultural.

A palestra marcou o sétimo encontro do projeto "A ciência nos bastidores do Museu do Amanhã", que continuará até o dia 25 de fevereiro. Na próxima quinta-feira (4), será a vez do historiador José Augusto Pádua, com uma palestra sobre o "Antropoceno", às 17h30m.

No bate-papo com os visitantes do Museu, Luiz Fernando ressaltou que cada cultura é dotada de variedade, complexidade e sistematicidade próprias.

- Para nós é difícil compreender que haja outros universos, baseados sobre pressupostos diferentes. Mas aqui mesmo, na Região Metropolitana do Rio, há uma série de possibilidades culturais muito diversas - disse Luiz Fernando, ao citar o trabalho antropológico que fez com pescadores de Jurujuba, bairro de Niterói, na década de 1970.

- Essa população sempre se referia às "doenças dos nervos". Eles estavam falando de outro conceito, diferente do entendido pela classe média. Havia uma entidade física (os nervos estão na pele, no corpo), mas, para os pescadores de Jurujuba, o "nervo" era o veículo da vida moral e religiosa das pessoas. Esse discurso constituía um sistema cultural próprio.

A 'catedral do Amanhã'

Luiz Fernando citou levantamento da Unesco segundo o qual há 2.500 línguas com risco de extinção, representando "a perda de todo um universo" e de "um processo de identidade".

- Estão em risco não apenas línguas, mas sociedades inteiras. Isso representaria a perda de tesouros, de um processo de identidade, um conjunto de experiências de vida - lamentou.

O antropólogo também lembrou que a Ciência contemporânea decorre de tradição cristã. E causou surpresa na plateia ao enxergar semelhanças entre o Museu do Amanhã e uma "catedral":

- O horizonte que nós chamamos de "Ciência" é também decorrente de uma tradição do Cristianismo; um fenômeno cultural. A Igreja Católica é uma igreja racionalizante. Há uma acolhida do fenômeno religioso pelas ciências humanas. Isaac Newton tinha uma dimensão religiosa. Einstein, embora não fosse ligado a alguma religião, tinha uma visão cosmológica abrangente, baseada na moralização. Somos uma cultura de salvação; não mais da redenção, da volta do Criador, mas acreditamos que a tecnociência nos redimirá. Há um messianismo laico nessa visão de mundo. Esse museu é uma catedral, e é bom que assim seja. Espero que ele contribua enormemente para a sociedade.

Sobre o "Ciência nos bastidores"

A série de palestras "A Ciência nos bastidores" reúne os cientistas que participaram da elaboração da Exposição Principal do Museu do Amanhã em conversas informais com o público. Estudiosos das áreas de Ciências Exatas, Humanas e Biológicas, ligados a universidades do Brasil e do exterior, desvendam aos visitantes os detalhes e desafios envolvidos no planejamento da exposição.

As inscrições para o evento são gratuitas e não dão acesso às exposições do Museu. Os interessados podem se inscrever até cinco horas antes de cada palestra por meio de um formulário on-line, e o número de vagas está sujeito a lotação do espaço. Os encontros acontecem sempre às terças e quintas-feiras, às 17h30.

Veja a lista completa dos palestrantes.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.