Que humanos seremos amanhã?
Por Thaís Cerqueira*
A produção de conhecimento em diversas áreas do saber se acelerou de maneira sem precedentes ao longo do século XX, fazendo com que hoje a maior parte da humanidade seja alfabetizada. Os avanços da ciência e tecnologia fazem com que seja cada dia mais difícil distinguirmos o que natural do que é artificial, criando os “híbridos”. Pesquisadores trabalham no desenvolvimento de pesquisas de novos materiais, tornando realidade experiências que parecem ficção científica, assim como na análise da relação tecnológica entre pensamentos e máquinas, gerando sistemas cognitivos artificiais.
A criação de vida artificial, suas potencialidades e dilemas éticos são questões presentes em nosso cotidiano. A ciência também tem se dedicado à exploração espacial e à busca de vida fora da Terra. Esses são os principais temas abordados na área “Amanhãs - Humano”, momento da exposição principal que convida o visitante a pensar nos desafios e perspectivas para construirmos os Amanhãs que queremos.
Jogo Humano do Amanhã
No centro da sala há o jogo “Humano do Amanhã”, no qual o visitante pode descobrir, de forma bem-humorada, qual o seu perfil no futuro. Após uma série de perguntas inusitadas – como por exemplo “Você participaria de uma excursão para a Lua com duração de um mês?” – você pode descobrir é um “androide visionário,” um “turista no planeta” ou “terráqueo pé-atrás”, por exemplo. Idealizado pelo jornalista Marcelo Tas, o jogo foi inspirado na Teoria Humoral do grego Hipócrates – em que a vida seria regulada por “humores” predominantes, resultando em diferentes temperamentos.
Educação
A educação é um processo cultural de formação das pessoas, não apenas de transmissão de informação. É um modo desenvolvido pela sociedade humana para poder manter viva a sua própria história e os seus modos de produção, nas palavras da gerente de Educação do Museu do Amanhã, Melina Almada. Dessa forma, uma construção de conhecimento que deixe um legado para o futuro é um dos objetivos da seção.
Cada vez mais educadores utilizam a internet como uma ferramenta importante para o ensino. Com tantos conhecimentos disponíveis, surgem novos desafios e diferentes formas de ensino e aprendizagem.
- Um dos principais desafios é como fazer uma educação inclusiva, que conecte as pessoas e não esteja focada somente em desenvolver mão de obra e, sim, criar sujeitos pensantes, autores dos seus próprios futuros e processos de aprendizagem. O educador precisa ter consciência da forma como ele atua, como se relaciona com o mundo, para então entender como esse processo é aprendido e apreendido por esse sujeito que é o educado - lembra Melina.
Pensar o desafio da educação é diferente de pensar o desafio da escola. As instituições de ensino devem buscar superar a perspectiva do século XIX, em que era considerada como a única produtora de conhecimento.
- Estamos vivendo um momento de descentralização que é muito favorecido pela tecnologia. Deixamos de ser somente consumidores de conteúdo e passamos a ser também produtores. É claro que há níveis de produção diferentes, tanto em termos de aprofundamento quanto de qualidade, mas é uma mudança importante, pois ela começa a desierarquizar os processos de construção de saberes - ressalta a educadora.
Vida artificial
O avanço da tecnologia proporcionou criarmos vida por meio de processos totalmente sintéticos, em laboratório. E nos próximos 50 anos essa tendência tende a se tornar uma realidade cada vez mais comum. Segundo a geneticista Mayana Zatz, uma das consultoras do Museu, a genética vai revolucionar a medicina, criando remédios personalizados – chamados de medicina de precisão – além de termos mudanças profundas na criação de animais, na área de agricultura e tecnologia.
Essa realidade, que para muitos é considerada o início de um momento de prosperidade e saúde humana, suscita muitos questionamentos e problemas éticos. Um dos grandes dilemas da manipulação genética é como lidar com os “achados incidentais”, situações em que encontram- se mutações que não irão se desenvolver naquele momento.
– Outro impasse é em relação à edição de genes em embriões, se temos a possibilidade de atuar apenas no gene específico de uma família com risco de hemofilia, por exemplo, por que não fazer a edição dos genes dessa doença – complementa a geneticista.
Outros questionamentos também surgem pelo receio da má utilização da manipulação de genes, que poderiam ir além da exclusão de doenças, e servir para selecionar inteligência, algum tipo específico de beleza, entre outras coisas. Amanhãs assustadores? Pois esses caminhos estão sendo construídos hoje.
*Thaís Cerqueira é da equipe de Conteúdo do Museu do Amanhã