Processo e criação
O grupo Superflex expõe como poucos as engrenagens que movem o mundo. Por meio da sua arte, questiona temas como trabalho, produção, consumo de massa, propriedade intelectual, tecnologia, poder, dinheiro e arte. Nada melhor, assim, para inaugurar o Museu do Amanhã, que, inevitavelmente, terá de lidar com as mesmas questões.
Na exposição É Permitido Permitir, as obras vão além da exposição. Elas acontecem no plano da vida contemporânea. A cerveja Free Beer não é só um objeto, mas uma coleção de processos: de negociação (entre a equipe do Museu e a cervejaria Allegra), de manufatura, de distribuição, de licenciamento (em Creative Commons), de financiamento e de consumo. A garrafinha é o símbolo das redes que se formaram para ela existir.
No “Passeio das Baratas”, o Superflex põe o visitante para percorrer as instalações do Museu da perspectiva desses insetos que habitam a Terra há 300 milhões de anos (e possivelmente continuarão aqui muito tempo depois de nós, humanos). Isso põe em perspectiva a ideia de “amanhã”. “Amanhã para quem, cara-pálida?”, perguntam as baratas.
Na obra Copylight Factory são os visitantes que fabricam os objetos expostos. Com isso, o Superflex traz o trabalho para dentro do Museu. Eles estão certos. Um museu será relevante no século XXI na medida em que mantiver conexões vivas com o maior número possível de redes e organizações locais e globais, e com a comunidade da qual faz parte, empoderando-a.
Por Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Creative Commons no Brasil.