Dilemas (gen)éticos | Museu do Amanhã

Dilemas (gen)éticos

Exposição Principal
A geneticista Mayana Zatz em palestra no Observatório do Amanhã

Você faria um teste genético para saber que doenças, como câncer ou Mal de Alzheimer, teria a probabilidade de desenvolver no futuro? Sim, isso já é possível, apesar de custar caro. No entanto, a responsabilidade de médicos em informar ao paciente (e interferir na vida dele) está em debate. Esse dilema foi apresentado nesta terça-feira (23) pela geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano, ligado à Universidade de São Paulo (USP), no evento “A ciência nos bastidores do Museu do Amanhã”.

Mayana foi consultora do Museu na parte de genética. A especialista apresentou as vantagens e desvantagens de se realizar um aconselhamento genético, um exame que estuda porções do genoma para detectar mutações que podem provocar doenças graves. Ele é recomendado para adultos em fase reprodutiva, que tenham casos de enfermidades graves em parentes próximos.

Um exemplo de sua aplicação ocorreu com a atriz americana Angelina Jolie, que optou por retirar suas mamas após detectar uma mutação no gene BRCA1. A presença desta mutação, que é hereditária, aumenta em 87% o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama e em 50% o risco de ter câncer de ovário. No caso de Angelina, a mãe dela havia morrido de câncer em 2007. Porém, Mayana Zatz adverte sobre os riscos éticos deste procedimento.

– O geneticista não aconselha o teste genético. Há exemplos de casais que fazem o exame para saber se o filho terá algum problema. No entanto, a gente acaba descobrindo, sem querer, que o pai não é o biológico. A gente deve contar? Até onde vai nosso direito de interferir? Há um risco de desestruturar a família. Fora que o médico pode ser processado por contar ou não contar – ironiza.

Ela explica que é preciso evitar a criação de um comércio de testes genéticos, aplicados atualmente para diversas finalidades, como o desenvolvimento de dietas específicas a análises de doenças em crianças assintomáticas.

Gene do otimismo

Mayana apresentou ainda uma pesquisa mostrando que 40% da população brasileira é predisposta a ser otimista (na Inglaterra, o índice foi de 16%).

– Como explicar isso? Não sei. Mas quem veio para o Brasil na época de Cabral era muito otimista. Ou os índios também eram – brinca a geneticista. – Identificar os genes do otimismo pode ajudar a melhorar o mau humor ou criar a pílula da felicidade? A gente vai ter mais compaixão com alguém que sempre chuta o balde? Será que nosso comportamento pode mudar com a descoberta dessa informação genética? – complementa.

A morte da morte

E o que esperar do amanhã? No campo da genética, segundo Mayana, teremos tecnologias capazes de editar genes para curar doenças, o que revolucionará a medicina. Poderemos criar o bebê "perfeito", escolhendo cor dos olhos, o sexo, nível do Q.I, além de benefícios que influenciariam na longevidade dele.

Mas a geneticista adverte:

– Vamos saber lidar com essa revolução? Será a volta da eugenia? Quais serão os limites? – finaliza.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – IDG, e conta com patrocinadores e parcerias que garantem a manutenção e execução dos projetos e programas ao longo do ano. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo.