As mudanças no clima - e em nós
No segundo evento da série de palestras “A Ciência nos Bastidores do Museu do Amanhã”, realizado nesta quinta-feira (14), Carlos Nobre, uma das maiores referências em mudanças climáticas do Brasil, jogou para o público a responsabilidade de se evitar um colapso na Terra. Para ele, há elementos suficientes que mostram que a raça humana foi a primeira e única espécie a transformar totalmente o planeta, a ponto de causar um desequilíbrio tão grande que os cientistas consideram que já vivemos numa nova era geológica: o Antropoceno, a Era dos Homens.
- O desequilíbrio que estamos causando equivale explodir diariamente cerca de 400 mil bombas atômicas como as de Hiroshima - comparou.
O pesquisador destacou que apenas uma grande revolução comportamental e social ajudarão a resolver desafios econômicos, científicos e tecnológicos necessários para enfrentar a elevação da temperatura do planeta. A começar pela mudança de hábitos alimentares de cada um.
- Eu parei de comer carne em 2007 porque preciso mudar minha pegada ecológica. Minha saúde até melhorou - disse. - Mas cada pessoa vai achar uma maneira de reduzir sua pressão sobre o meio ambiente - acrescentou Nobre, referindo-se à pecuária global, uma das principais responsáveis pelo desmatamento, que libera para a atmosfera alta quantia de gases causadores do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2).
Somos Terra
Durante pouco mais de uma hora, o cientista - presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), instituição ligada ao Ministério da Educação - apresentou números, gráficos e ilustrações que demonstram as mudanças que têm transformado a Terra. Os dados são incontestáveis: o planeta está aquecendo, e a mudança climática já ocorre.
- O gelo ártico está desaparecendo rapidamente, há mudança da temperatura nos oceanos, a cobertura de neve tem diminuído no Hemisfério Norte, assim como a extensão de gelo marinho - alertou - Além disso, o nível do mar está aumentando. Por que esse assunto é preocupante, mais até do que a criação de vacinas, dengue ou a descoberta da cura do HIV? Porque o que estamos fazendo agora, emitindo hoje, vai estar conosco pelos próximos 140 anos. Daqui 1.500 anos, 15% dos gases que lançamos hoje para a atmosfera ainda estarão circulando pela Terra.
O climatologista convidou o público a aproveitar a proposta do Museu do Amanhã e a “fazer várias visitas”, como forma de refletir “o porquê de termos nos colocado nessa situação atual e como a inteligência humana pode nos ajudar a vencer os desafios”.
- Não esperem só por leis, tem que haver uma mudança em nível pessoal - afirmou, para encerrar com uma mensagem de otimismo: - O Brasil pode ser um grande líder numa trajetória sustentável. A sociedade está, sim, preocupada com a questão do clima.
Nobre é um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) que, em 2007, ganhou o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com Al Gore e representante brasileiro na rede internacional de estudos “An Integrated History and Future of People on Earth.
Sobre o "Ciência nos bastidores"
A série de palestras "A Ciência nos bastidores" reúne os cientistas que participaram da elaboração da Exposição Principal do Museu do Amanhã em conversas informais com o público. Estudiosos das áreas de Ciências Exatas, Humanas e Biológicas, ligados a universidades do Brasil e do exterior, desvendam aos visitantes os detalhes e desafios envolvidos no planejamento da exposição.
As inscrições para o evento são gratuitas e não dão acesso às exposições do Museu. Os interessados podem se inscrever até cinco horas antes de cada palestra por meio de um formulário on-line, e o número de vagas está sujeito a lotação do espaço. Os encontros vão até 25 de fevereiro, sempre às terças e quintas-feiras, às 17h30.